Voltar para o topo

Agora você pode adicionar o PapelPop a sua tela inicial Adicione aqui

(Foto: André P./Divulgação)
(Foto: André P.)
música

Silva reflete a primeira década da carreira em “De Lá Até Aqui”: “Eu vivo por isso!”

Dez anos. Uma década se passou desde o início da carreira musical de Lúcio Silva de Souza, músico conhecido como Silva. Para celebrar o rico período artístico, que contempla tantas fases da vida pessoal e profissional do cantor, o disco “De Lá Até Aqui” foi lançado nas plataformas digitais.

Disponibilizado no streaming em 1º de outubro, o álbum apresenta dez canções. Antes de embarcar nas delicadas releituras, o ouvinte é recepcionado com uma faixa inédita: “Pra Te Dizer Que Tô Feliz Assim”.  Em entrevista com o Papelpop, o artista revelou ser uma composição ambígua: “fala ao mesmo tempo do caminho da minha carreira” e “dos meus últimos relacionamentos, da minha vida amorosa”, conta um sorridente Silva.

Ao longo do período destacado pelo projeto, o artista cantou Marisa Monte, se jogou no mundão com um EP no SoundCloud antes do revelador “Claridão”. Foi até “Júpiter”, encarou a “Vista pro Mar”, encontrou seu eu “Brasileiro” e sentiu a maturidade em “Cinco”. “De Lá Até Aqui” reúne flashes emocionantes sobre essa jornada que abarca ainda mais momentos especiais.

“Pude me permitir não seguir fórmulas e a mudar quando entendia que era hora de fazer outro tipo de som. E é assim que vou, pelo som que me guia, que alimenta a minha alma, a música das notas e dos fonemas, o gosto doce de ouvir as pessoas cantando comigo, e a alegria de poder levar o melhor de mim para as pessoas, sempre em busca da paz. Eu sigo assim. De lá até aqui. E daqui pra frente”, relatou o cantor durante o anúncio do LP.

Para um repertório vasto, houve dificuldade em escolher o que poderia entrar. O cantor até pensou em produzir um outro volume – quem sabe não o faz? Entretanto, durante a conversa, revelou seu critério: além do carinho, as faixas precisariam ser bem encorpadas para voz e violão ou voz e piano.

Durante o bate-papo, ainda falou sobre as lembranças que essas composições cercam, os encontros que a vida lhe proporcionou, a amizade e a parceria artística com Marisa Monte e mais. Ao fim, o compositor cita os registros audiovisuais lançados pelo projeto e dá um alegre vislumbre sobre o futuro. Abaixo, você lê a íntegra da entrevista com Silva.

***

Papelpop: Completar dez anos de carreira é um marco muito importante na vida de muitos artistas. Como foi ter a consciência de que tinha chegado nesse momento? Qual foi o ponto de reflexão que o levou a criar o disco comemorativo?

Eu não sou um cara muito bom com aniversários. Adoro o aniversário dos meus amigos, essa coisa de fazer a pessoa se sentir especial no dia dela. Acho muito legal, mas quando é comigo, eu falo ‘Não quero festa, não façam festa. Vamos sair pra beber, mas festa não’. [risos] É porque eu já faço show e, além disso, você precisa fazer uma festa pra você…? É uma coisa minha. Não tenho essa coisa com as minhas datas comemorativas. Tudo o que eu faço na minha carreira é com meu irmão e o André, nós somos em um trio. Faço tudo conversando com eles. São duas pessoas muito importantes pra mim. Quando o André falou ‘Pô, vamos festejar os dez anos. Seria muito legal fazer isso’, eu tinha acabado de lançar um álbum. Passei o ano passado inteiro dentro do estúdio. Foi super trabalhoso. Trabalhei muito tempo em estúdio. Nunca fiquei tanto tempo, inclusive. E aí a gente falou ‘Vamos fazer um álbum, sim’. E comecei a pensar que seria bem legal tocar essas músicas de novo, que não toco há muito tempo. Comecei a me empolgar com a ideia. Pensei: ‘Vai ser uma coisa desafiadora pra mim. Pegar músicas que já não tocava há três turnês e que às vezes nem lembrava mais a letra’. Eu tive que pegar algumas letras de novo, pegar os detalhes delas, começar a tocar de novo pra sentir como elas iam soar hoje, sabe? Do jeito que canto hoje. Fiquei super emocionado em alguns momentos. Foi ótimo!

Papelpop: Entre muitos álbuns e EPs lançados ao longo desses anos, qual foi o seu critério para a seleção das faixas que entrariam no álbum? Como foi esse processo?

Foi dificílimo! Como quando eu fui pegar o ‘Claridão’ pra ouvir de novo. Tinha muito tempo que eu não ouvia. Ah, você ouve muito [os discos], depois faz show, fica um tempo sem ouvir, aí ouve de novo. Geralmente, eu ouvia pra lembrar como é que eu fazia isso e aquilo. E foi super emocionante ouvir algumas músicas e falar ‘Poxa, queria tocar de novo. Será que eu poderia tocar de outro jeito e tal? Então, talvez eu faça um álbum duplo!’ [risos]. Tem muita coisa que eu queria regravar, que eu tenho muito carinho. Mesmo tendo passado tanto tempo, eu gosto, lembro da época que eu fiz. Eu sempre tive esse privilégio de poder fazer as coisas que eu gostava mais. Nunca tive uma gravadora me podando com ‘Isso aí não faz, não’. A gente já mostrava o disco pronto pra gravadora e eles gostavam, sempre gostavam. Opinavam, geralmente, com uma coisa e outra, mas gostavam. Foi difícil escolher as músicas que eu mais gostava – eu gosto de muita coisa. Mas meu critério foi: [entrariam as músicas] que iam ficar melhores só em voz e violão ou só em voz e piano. Que iam ficar legais de um jeito mais simples, sem aquele monte de arranjo, sabe? E assim ficou um pouco mais fácil.

Papelpop: Acredito que existem diversas histórias que cercam essas canções. Enquanto produzia as releituras, você relembrou de alguma história que não visitava há muito tempo, mas que foi essencial para sua carreira?

Lembrei, fiquei emocionado, chorei. Fiquei com muita saudade de várias pessoas especiais da minha vida que já se foram. Meu avô mesmo que era um cara que eu amava muito. Ele era muito forte mesmo, tipo, todo mundo da família sabia o quanto ele era forte e o quanto ele me incentivava com a música. Ele ficava ‘Vai meu neto, faz! Que legal, estuda mesmo!’. Ficava feliz quando eu estudava violino. Quando ele me viu compor pela primeira vez, foi uma música chamada ‘Ainda’, que eu regravei no álbum. Eu fiz essa música quando eu tinha uns 18 ou 19 anos. Então, lá de trás! Só fui gravá-la no ‘Vista Pro Mar’, que é meu segundo álbum. E agora estou tocando ela com 33 anos. É uma coisa forte ver uma música que vem lá de trás, de quando eu era muito novo, e hoje pra mim tem outro significado. Eu até gosto mais dela do que gostava antes. São umas coisas assim que completam o álbum.

Papelpop: “Não é Fácil” é a única releitura de Marisa Monte, do seu disco de 2017, que contempla o projeto. Como você recebeu as novas canções dela, as primeiras em quase dez anos? Se pudesse escolher uma das músicas de “Portas” para regravar, qual seria?

Nossa, amei isso! Olha, tive a sorte de ouvir esse álbum…bem, quando eu fui gravar com a Marisa pro álbum, eu tinha ido pro estúdio e ela sempre super rigorosa com as coisas. Cheguei um dia antes pra fazer o teste de Covid-19, fui pro estúdio e a gente passou um dia inteiro lá. Fazia muito tempo que eu não gravava. Foi no final do ano passado, novembro de 2020, quando fui lá. Cheguei duas da tarde e saí quase uma da manhã. Foi um dia muito intenso! Lá, Marisa me mostrou várias composições que ela estava pensando em colocar no ‘Portas’. Eu ia gravar a nossa, o piano. Tenho várias histórias legais desse dia. Muito carinho por algumas músicas que eu vi na época, quando ainda eram demo. Mas uma que eu sou apaixonado no álbum é ‘Espaçonaves’. Eu amo ‘Espaçonaves’! Acho que a voz dela, assim, parece uma aula de como ser 100% afinada. É uma coisa muito linda. Espero que as pessoas gostem tanto quanto eu gosto dessa.

Papelpop: “Pra Te Dizer Que Tô Feliz”, a única inédita da tracklist, abre o disco. O título é emblemático, pois apresenta um ponto de afirmação, talvez de chegada, e aborda caminhos, erros e indagações. Como se deu a criação desses versos?

Que legal! Obrigado! Tem uma coisa dessa música, que ela fala ao mesmo tempo do caminho da minha carreira, que é essa coisa ‘Meu caminho não é reto / Ninguém me falou onde é que ia dar/ Cheguei pra não voltar‘. Esse ‘Cheguei pra não voltar‘ é mais uma sensação que eu tenho de que já era assim. Quis brincar de ser artista, ser cantor. ‘Eu vou lá, estou novinho’… e de repente, você entende que é isso mesmo. ‘Minha vida virou isso! Realmente, minha vida é isso! Então, ‘Cheguei pra não voltar’ é que agora tem que andar pra frente. Seguir tentando fazer o melhor que puder. Essa música também fala dos meus últimos relacionamentos, da minha vida amorosa. Existem coisas que sei que foram muito boas pra mim, que me fizeram crescer pra caramba. É um jeito de olhar pro passado de um jeito mais carinhoso. Tipo um recado: ‘Tô feliz aqui, tá tudo certo!’. Tenho muito carinho por essa música.

Papelpop: Os registros audiovisuais acompanham você em diferentes ambientes da sua nova casa. Todos em preto e branco, os vídeos apresentam, além das músicas, a sua relação com os instrumentos e com o próprio local. O que te motivou a escolher essa estética para esses registros?

Essa foi uma referência que a gente viu em algum lugar. O André me mostrou uma coisa que eu achei muito linda, que tinha uma coisa PB. Eu lembro que eu vi também um vídeo maravilhoso do Seu Jorge, uma coisa que ele fez pra Louis Vuitton ou algo assim. Era um vídeo muito lindo em preto e branco. A gente foi achando que o preto e branco seria bonito para dar unidade, para filmar vários ambientes da casa, mostrar a arquitetura. Eu quis gravar os vídeos de um jeito que fosse real, como se fosse documental. O que está filmando ali é realmente a hora que estou gravando – é também o que entrou no álbum. Não teve essa coisa de depois arrumar uma voz, um violão. Não teve nada disso. Era um take só e às vezes era um microfone só para voz e violão. Tudo para ter esse som mais próximo do que se tinha antigamente, mais puro, limpo. Tem muita gente fazendo isso hoje em dia. Acho que essa cultura que a gente começou a ver no Tiny Desk, por exemplo, você vê os caras fazendo ao vivo. Deve ter uma pós-produção só pra melhorar a mixagem, uma coisa ou outra, mas você vê que é uma coisa tocada de verdade. Estão indo músicos dos mais pops até os mais loucos. Isso é uma coisa que estou gostando muito e as pessoas conseguem ver que é uma tocada de verdade, sabe? Nisso também, você não pode ser tão controlador. Tem que deixar alguns errinhos passarem. Nem errinho, mas é uma troca de acorde no violão que vem uma arranhada e você tem que ficar: ‘Tá tudo bem, tá tudo certo!’ [risos]

Papelpop: Silva, olhando para os últimos dez anos, o que a música te trouxe? O que a música significa para você hoje?

Música tem sido a minha vida, a minha vida toda. Eu não saberia ser outra coisa. Eu já até pensei assim, lembro no começo da carreira quando eu comecei meu primeiro EP, lá em 2011, e era só no Soundcloud. Quando as pessoas começaram a falar do trabalho, eu não imaginava que as coisas iam crescer assim. Eu achava que ia pra sempre tocar em um festival pequeno, em algo do gênero. Só que depois eu fui perdendo medo. Fui vendo que podia fazer essas coisas diferentes. Lembro de ter mandado uma mensagem pro Lulu Santos, depois que consegui o e-mail dele com a assessoria de imprensa. Ele respondeu em 20 minutos: ‘Amei a música, vamos fazer!’. E as coisas foram acontecendo assim, foram aparecendo vários artistas gigantescos que começaram a olhar pra mim com carinho. Falavam bem em alguma entrevista, por exemplo, como foi o caso do Lulu. Sobre a Marisa [Monte], eu fiz um programa de TV relendo as versões dela. Ela é tão elegante que me escreveu um e-mail em agradecimento pela homenagem. Foi assim que a gente se conheceu e eu fiz o álbum homenageando ela, porque ela é realmente uma pessoa muito importante na minha vida. Ouvi Marisa a vida toda e ter ela hoje como amiga, de participar do disco dela, pra mim é uma honra gigantesca. Eu fico muito feliz de ter conquistado essas coisas, pois é algo que eu realmente amo. Eu vivo por isso!

Papelpop: E pra fechar, Silva, você faz alguma projeção para daqui a 10 anos? O que quer ter conquistado ao chegar nos 20 anos de carreira?

Eu conquistei uma coisa que parece técnica, mas é bem importante pra mim. Eu não era cantor como minhas amigas, tipo a Maria Gadú, que canta desde os doze anos de idade. Ela já tinha esse canto forte desde muito nova. Eu vim aprendendo a conhecer a minha voz junto com a minha discografia. Eu escondia minha voz no começo, colocava um monte de efeito. Com o tempo comecei a gostar mais da minha voz mais natural. Então, eu deixei um pouco meu lado nerd de lado… eu era o cara que passava o tempo inteiro no computador, no estúdio e criava coisas! Eu quero voltar com isso, juntar essas coisas de novo e ver o que vai acontecer com a música. É isso que me deixa empolgado, tentar coisas novas!

***

Ouça “De Lá Até Aqui” no streaming:

Spotify | Deezer | Apple Music

voltando pra home