cinema

Martin Scorsese defende “Mãe!” e critica sites que atribuem pontuações a filmes

O diretor Martin Scorsese escreveu um artigo publicado ontem no The Hollywood Reporter no qual criticou sites como Rotten Tomatoes, que dão notas a filmes, e defendeu “Mãe!”, de Darren Aronofsky, considerado péssimo (nota F, a pior) pelo Cinemascore.

Scorsese não está feliz com a maneira como o público consome os filmes hoje em dia, principalmente no que diz respeito às bilheterias – para ele, os números estão se tornando mais importantes do que a experiência de se ver o filme, começando por, é claro, assisti-lo, até debatê-lo.

“(…) Há uma outra mudança que acredito que não tem nenhum lado positivo. Começou nos anos 80, quando os números de bilheteria começaram a se transformar na obsessão que são hoje. Quando eu era jovem, as notícias das bilheterias se restringiam a revistas da indústria como o The Hollywood Reporter. Hoje, eu temo que elas tenham se tornado… tudo. A bilheteria é a base de quase todas as discussões sobre cinema e frequentemente se tornam mais do que apenas a base. O julgamento brutal que fez com que a arrecadação da estreia dos filmes se tornasse um esporte para um espectador sedento de sangue encorajou esses tipos de críticas. Estou falando de empresas de pesquisa de mercado como Cinemascore, que começou no final dos anos 70, e agregadores online como o Rotten Tomatoes, que não têm absolutamente nada a ver com a crítica cinematográfica de verdade. Eles classificam um filme da mesma maneira que alguém daria uma nota para um cavalo numa pista de corrida, um restaurante no guia Zagat ou uma aplicação financeira no Consumer Reports. Eles têm tudo a ver com o mercado de cinema e nada a ver com a criação e a apreciação inteligente de um filme. O cineasta é reduzido a um produtor de conteúdo e o espectador a um consumidor acomodado.”

Ele não entrou no mérito dessas avaliações e notas supostamente prejudicarem a arrecadação de um filme, e sim nos julgamentos prévios de uma produção sem as pessoas a terem visto antes. Foi o que aconteceu com “Mãe!”.

“Antes de ter visto ‘Mãe!’, eu fiquei extremamente perturbado por todos os julgamentos severos. Muitas pessoas pareciam querer definir o filme, colocá-lo numa caixa, achá-lo desejável e condená-lo. E muitos pareciam ficar felizes com o fato dele ter recebido uma nota F do Cinemascore. Isso realmente se tornou uma notícia – ‘Mãe!’ tinha sido ‘esbofeteado’ com a ‘temida’ nota F do Cinemascore, uma terrível classificação compartilhada com filmes dirigidos por Robert Altman, Jane Campion, William Friedkin e Steven Soderbergh. Depois que eu tive a chance de ver ‘Mãe!’, fiquei ainda mais perturbado por essa pressa em julgar, e é por isso que queria compartilhar meus pensamentos. As pessoas pareciam estar atrás de sangue simplesmente porque o filme não podia ser facilmente definido ou interpretado ou reduzido a uma descrição de duas palavras. É um filme de terror, ou uma comédia sombria, ou uma alegoria bíblica, ou um alerta sobre devastação moral e ambiental? Talvez um pouco de tudo isso, mas certamente não apenas uma dessas categorias. É um filme que precisa ser explicado? E a experiência de assistir ‘Mãe!’? Foi tão tátil, tão lindamente encenado e atuado – a câmera subjetiva e os ângulos reversos do ponto de vista, sempre em movimento… o design de som, que vem ao espectador de todos os cantos e o leva cada vez mais para as profundezas desse pesadelo… o desenrolar da história, que gradualmente se torna cada vez mais perturbadora à medida que o filme avança. O horror, a comédia sombria, os elementos bíblicos, o alerta – estão todos lá, mas são elementos da experiência total, que engole os personagens e os espectadores junto deles. Apenas um verdadeiro e apaixonado cineasta poderia ter feito esse filme, no qual ainda estou pensando semanas depois de vê-lo.”

Por fim:

“Os bons filmes feitos por cineastas reais não são criados para ser decodificados, consumidos ou instantaneamente compreendidos. Eles não são nem feitos para serem gostados imediatamente. São feitos porque a pessoa por trás das câmeras tinha que fazê-los. E como qualquer pessoa familiarizada com a história do cinema sabe muito bem, há uma lista muito longa de títulos – ‘O Mágico de Oz’, ‘A Felicidade Não Se Compra’, ‘Um Corpo Que Cai’ e ‘À Queima-Roupa’, só para citar alguns – que foram rejeitados no lançamento e se tornaram clássicos. As avaliações do Rotten Tomatoes e Cinemascore desaparecerão em breve. Talvez sejam substituídas por algo ainda pior. Ou talvez desapareçam e se dissolvam à luz de um novo espírito na alfabetização cinematográfica. Enquanto isso, filmes feitos apaixonadamente como ‘Mãe!’ continuarão a crescer em nossas mentes.”

E vocês, o que acham?

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