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Foto: MAR+VIN
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música

Entrevista: CHAMELEO fala sobre aceitação e trocas de pele em ‘Ecdise’, primeiro álbum da carreira

Com seu jeito autêntico e transmutável, como o próprio descreve, CHAMELEO lança nesta quinta-feira (21) o primeiro álbum de sua carreira, “Ecdise”. O trabalho chega após uma série de lançamentos individuais que, além de ‘Mind Games’ e ‘Vai Querer’, conta com ‘Frequente(mente), sua parceria com Pabllo Vittar.

Com 13 faixas que variam entre relatos pessoais e músicas dançantes, o debut chega com um conceito forte: Ecdise é o processo de transformação de um camaleão, que o deixa mais forte e o ajusta nos ambientes conforme a necessidade. O cantor falou com o Papel Pop sobre a criação do novo repertório, a sonoridade das faixas, as descobertas pessoais durante o processo e as mutações que, assim como um camaleão, viveu na vida artística e pessoal até agora.

Confira a entrevista na íntegra:

“Ecdise” refere-se a troca de cores e fortalecimento de um camaleão. Como essa estética aparece nas canções, musicalmente?

Antes de eu começar realmente a desenvolver as músicas, eu já sabia o conceito que eu queria: uma coisa que transmutasse e que não fosse como quando você ouve um álbum e as músicas têm a mesma pegada, mais parecidas. Em ‘Ecdise’, cada música é uma troca de pele e cada música explora um estilo diferente de tantas referências que eu bebo ao longo da minha vida. 

É uma linguagem pop, mas em estilos, eu misturo rock, funk, k-pop, pop latino, mpb… É um grande sopão de letras, que é muito quem eu sou na vida, tanto o que escuto e consumo, até na forma de agir e ser. A mudança é o meu combustível para eu conseguir viver.

Imagino que essa alma mutante também vai estar presente na parte visual? Como funcionou a sua pesquisa nesse sentido?

Eu gosto de tudo que aborda uma relação com o futuro, um futuro não tão distante. Então eu sabia que queria trazer essa pegada no material fotográfico. E como eu já sou cheio de coisas e cheio de referências, eu queria trazer algo mais clean, que para mim traz um pouco desse futuro distópico — que eu imagino na minha cabeça — mas, ao mesmo tempo, ele permeia por essas trocas de pele. 

As referências eu vou coletando na minha pastinha do celular, o que eu gosto e o que me representa. Já era um sonho para mim fotografar com os Marvin, que assinaram a fotografia do projeto, então para mim foi surreal, foi realizar um sonho. Os meninos são demais, quando eu apresentei para eles mandando um áudio no instagram explicando a ideia que eu tinha, eles abraçaram.

É algo bem relacionado às ‘eras’ na música, algo que ainda não é tão comum no Brasil, mas que já vem se adentrando no mercado. Certo?

Super! É bem essa coisa do não se apegar ao gênero musical, óbvio, mas também ao gênero pessoal. Eu gosto de permear pelo masculino e feminino. Para mim, entre o masculino e feminino, entre homem e mulher, existe um grande espaço e eu estou em algum lugar ali. 

Então ‘Ecdise’ também é sobre transmutar entre os gêneros?

Em tudo. Tanto musical, quanto pessoal, que é o estado que eu me encontro. O álbum me ajudou muito no processo de entendimento pessoal, de quem eu sou. Então sou muito grato.

Seus recentes trabalhos se enquadram em uma sonoridade bem pop. Como foi o processo criativo das músicas e como sua personalidade foi traduzida no álbum?

Eu acho que quando eu abracei o pop foi quando eu abracei também quem eu sou, porque eu sempre fui a gayzinha, quando criança, que pegava o cabo da vassoura, enrolava a toalha na cabeça e jurava que ia ser uma ‘Pussycat Dolls’, mas a vida vai acontecendo e eu fui me reprimindo por muito tempo. Eu sempre fui a pessoa pop, mas nos meus primeiros lançamentos, como eu ainda não era seguro cem por cento de quem eu sou, eu explorava um álter ego mais dark, um outro lado meu, não essa ‘bixaria’ toda que é hoje em dia, que é quem eu sempre fui. 

É o meu primeiro álbum, eu sabia que queria contar a minha história, então ele não é um álbum pensado para hitar e entrar em rádio, é um álbum que eu quero contar a minha história nesse momento. Várias facetas da minha personalidade, como pessoa e musicalmente também. Eu falo de questões bem próximas, bem pessoais, como a minha relação com o câncer que tive, que foi o começo da minha Ecdise toda, eu falo muito da minha ansiedade e até da minha relação com remédios ansiolíticos. Não é nada muito metafórico, eu falo bem sem entrelinhas. O fato de ser independente ainda me permite falar e fazer o que tenho na minha cabeça e consigo enxergar, sem ser podado.

Várias questões que eu enfrento e enfrentei ao longo da minha vida eu exponho no álbum, até a própria aceitação de quem eu sou, onde eu faço as pazes com a minha criança lá de trás, que era ‘viadinha’, mas eu ouvi que não podia ser. É um álbum bem pessoal e dentro das treze faixas todo mundo vai conseguir me conhecer e ver quem eu sou.

“Querido eu” é uma das faixas mais pessoais, como uma carta para si mesmo. Por que foi importante fazer essa música?

Muita coisa fica na nossa cabeça, pensamentos, questionamentos… Mas quando você coloca no papel, parece que fica concreto e real. Então, por mais que eu já estivesse passando por essa fase de aceitação pessoal e de fazer as pazes com o Leozinho, gayzinho, que por muito tempo foi reprimido, quando eu coloquei no papel e fui gravar, foi quando fiz as pazes comigo mesmo. Eu sinto que é uma música que muita gente vai se identificar, principalmente pessoas da nossa comunidade LGBTQIAP+ que passam por essas questões e que talvez também brigaram com a criança lá de trás. Eu espero que seja uma forma de, não só como eu me liberto, mas que muita gente também possa. Eu realmente espero isso.

Na mesma faixa, a letra diz “você teria orgulho de mim”. O que você se orgulha, artisticamente, de ter construído até aqui?

Eu me orgulho de estar aqui hoje sentado, falando com você sobre o meu álbum. É o sonho de todo artista ter seu primeiro álbum, só que existem muitos empecilhos sendo independentes para lançar um trabalho assim, desse tamanho. Eu sou muito orgulhoso de nunca ter desistido, porque foram inúmeras vezes que eu quase, e de estar aqui hoje com um trabalho pelo qual eu me orgulho de todos os pontos. Eu estou envolvido em todas as questões do lançamento, desde a parte da composição da música e da produção, até a parte visual e todos os detalhes. É algo que eu não achei que conseguiria fazer sozinho. É um trabalho conjunto de amigos muito talentosos.

Na faixa “Palhaço” você fala sobre uma pessoa engraçada, mas que pelo seu jeito não é levada “a sério” em relacionamentos. Vem de uma experiência pessoal? Como você encara esse tipo de situação?

Total. É como eu me sinto. Eu sempre tive na minha cabeça, até nas notas [do celular] anotado “faixa palhaço”. Eu tinha um nome, eu sabia que queria falar sobre isso e quando eu comecei a desenvolver o conceito do álbum, e quais eram os tópicos que eu queria trazer, foi inevitável. Eu acho que muita gente se identifica também, as mais caricatas, as mais engraçadonas… Todo mundo quer ter um amigo engraçado, é legal estar na companhia de alguém alto astral, mas e pegar para criar? Quem que quer? É mais uma brincadeira, mas é bem como eu me sinto, sim. Super pessoal.

Você e a Pabllo lançaram “frequente(mente)” no ano passado e agora a faixa entra no disco. Ela te deu algum conselho ou te ensinou algo?

A gente é muito amigo, a gente ficou amigos antes da música nascer e foi muito natural o processo. Geralmente eu mando minhas músicas para ela, a gente troca figurinhas, e quando ela ouviu ‘frequente(mente)’, me mandou um áudio falando “amiga, posso cantar ela com você?” e eu caí pra trás. Então acho que o conselho maior que ela me deu e me dá, é isso, é ser exatamente como você é, porque mais do mesmo já tá cheio e quanto mais próximo de quem a gente é, mais casca grossa  a gente fica  para conseguir encarar as críticas e opiniões alheias que. no fim, não tem que importar.

Então anota aí: ‘Ecdise’ chega em todas as plataformas digitais nesta quinta-feira (20), às 21h. Faça o pre-save clicando aqui.

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