D’Angelo, o homem que reinventou o soul morreu nesta terça-feira (14). Um artista que transformou corpo, fé, desejo e política em música. Uma sonoridade que parecia antiga e nova ao mesmo tempo, cheia de personalidade, soul, espiritualidade e sensualidade.
D’Angelo cresceu dentro de uma igreja na Virgínia. O pai era pastor, a música era oração. Mas, do lado de fora, ouvia hip-hop, funk, jazz. Essa fusão, do sagrado e do profano, começa a aparecer quando D’Angelo começa a compor, ainda adolescente, sozinho no piano. A alma da igreja e o groove da rua.
Nos anos 90, o R&B que até então era mais polido, mais genérico, dá espaço para um grupo de artistas que cria junto e traz a inventividade e o calor humano de volta.
Dentre eles, Lauryn Hill, Erykah Badu, Maxwell, D’Angelo, Jill Scott e muitos outros. Juntos, eles criaram o neo-soul:
um som orgânico, cheio de textura, com coração, verdade, novo, flertando com o soul clássico norte-americano.
D’Angelo era um dos principais rostos desse movimento.
O primeiro disco foi uma surpresa agradável e suave. “Brown Sugar” é uma delícia: tinha groove, melodia, carne e espírito. Era soul falando de amor e desejo com uma honestidade que quase constrangia. O público sentiu. A crítica entendeu. D’Angelo tinha chegado pra ficar. Destaque para as faixas “Lady” e “Me and those dreaming eyes of mine”.
(Foto: Getty Images)
Cinco anos depois, veio o “Voodoo”. Um disco gravado no lendário Electric Lady Studios, onde Jimi Hendrix gravava.
O som era sujo, vivo, espiritual. As baterias de Questlove tinham peso, os baixos arrastavam, o corpo balançava. Os vocais: impecáveis.
Era o auge de D’Angelo e, até hoje, um dos melhores discos de R&B de todos os tempo. Era mais do que um álbum, era um ritual. Um retrato do soul no século 21.
Desse disco, então, veio o clipe que mudou tudo. Um plano-sequência. Um corpo nu. Um olhar fixo. Nenhum cenário, nenhum truque. Só ele e a câmera, em silêncio.
Foi sensual, foi chocante, foi arte pura. Mas também foi o começo de um problema. O público começou a ver o corpo antes da música e isso incomodou o artista.
Nos shows, os gritos eram os mesmos: “Tira a camisa!”. D’Angelo se irritou. Se fechou. Ele dizia: “Não quero ser um símbolo sexual. Quero que ouçam minha música.” O homem tímido que só queria fazer arte tinha virado refém da própria imagem. E então, ele desapareceu. Para o nosso desespero.
(Foto: Getty Images)
Por mais de uma década, quase nada de D’Angelo. Sem shows, sem entrevistas, sem discos. D’Angelo enfrentou o peso da fama, os vícios, o espelho. Enquanto ele lutava pra se reencontrar, a influência só crescia. Mesmo em silêncio, D’Angelo seguia moldando o som de uma geração.
Quando ele voltou, 14 anos depois, não foi só com música — foi com uma mensagem. “Black Messiah”, seu último disco lançado, é uma obra-prima política, espiritual e furiosa. Um grito sobre raça, fé, amor e resistência. Era o som de um homem e de um povo em busca de redenção. Mas sem deixar o amor e o sexo de lado. Foi o renascimento de D’Angelo. Faixas para escutar: “Sugah Daddy”, “Really Love” e “Betray My Heart”.
(Foto: Getty Images)
D’Angelo é herdeiro direto de Marvin Gaye, Prince, Al Green e Sly Stone. Quem bebe de fonte boa, o resultado é sempre o mesmo. De cada um, ele herdou um pedaço: o erotismo, a espiritualidade, o funk, a coragem. E quando o artista é bom, o resultado nunca é imitação. É alquimia. D’Angelo pegou tudo e transformou em algo só dele.
Hoje, a linhagem criada por ele é clara. Frank Ocean, Anderson .Paak, H.E.R., Solange, Beyoncé, Miguel e muitos outros. Todos ecoam o que D’Angelo ensinou: que vulnerabilidade também é força, e que groove e emoção nunca podem morrer e devem andar de mãos dadas. O neo-soul virou um universo e D’Angelo foi o ponto de partida.
D’Angelo é o elo entre o passado e futuro, corpo e fé, prazer e dor. Entre Marvin Gaye, Frank Ocean, passando muitas vezes por Prince, ele é a lembrança de que a música ainda pode ser humana, imperfeita, íntima, divina. O soul nunca morreu, ele só estava esperando o próximo acorde. Por mais artistas como D’Angelo para os nossos ouvidos e corações.
A música boa e a arte nunca morre.
(Foto: Getty Images)
Ai, Dios Mio! 💃 “LUX” marca a maior estreia de Rosalía no Spotify, superando o…
Olivia Rodrigo se posicionou publicamente contra o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos (DHS)…
Jade Picon está pronta para dar mais um passo importante em sua trajetória como atriz.…
Ele tem uma carreira linda fora do "Dominguinho"! O cantor e compositor Jota.pê estreou, na…
Rosalía fez a primeira apresentação ao vivo da era “LUX” durante o prêmio LOS40 Music…
O Grammy 2026 anunciou seus indicados, nesta sexta-feira (7), e tem brasileiros na lista: Caetano…
Leave a Comment