música

Lolla BR 2025: Paco Amoroso & Ca7riel celebram o NoPorn em show malemolente, que expõe desconexão do Brasil com o espanhol

Única atração de língua espanhola do Lollapalooza Brasil em 2025, a dupla argentina Paco Amoroso & Ca7riel fez sua estreia em São Paulo na tarde deste domingo (30), no terceiro e último dia do evento. Com uma entrada à la Caetano & Bethânia, que se deu por vias opostas e culminou em um encontro central, os músicos preferiram ignorar o habitual festejo que se nota por parte de atrações internacionais no país.

Guiados pelo código de conduta dos bad boys, apertaram os olhos para ver até onde ia seu público nas ladeiras do Autódromo de Interlagos. Em seguida, sentaram-se, pondo fim à marra ensaiada. A festa que promoveriam foi meticulosamente feita sem alarde, como se estivessem cantando no próprio quarto.

Foto: Dri Spaca (Papelpop, todos os direitos reservados)

Embora tenham sido escalados para tocar cedo, pontualmente às 16h40, os dois artistas souberam driblar a falta de prestígio do horário ao construir um show comedido, ainda que de aproveitamento total. Diferente do Lollapalooza Argentina, onde tocaram no último fim de semana acompanhados por uma estrutura imponente, os artistas reproduziram em cena a atmosfera intimista de um outro espetáculo que os ajudou a se popularizar fora do próprio país: aquele encomendado pelo Tiny Desk, série organizada pela rádio NPR.

O clima outonal de São Paulo, que com frequência se desdobra em verão cruel, se manteve estável, contribuindo com o entusiasmo dos fãs. Em “Baby Gangsta”, segunda canção do repertório, ouviam-se ecos que destacavam uma nova progressão do gosto por música em espanhol no Brasil — um evento sociocultural que, historicamente, se revela cheio de vai-e-vens.

Foto: Dri Spaca (Papelpop, todos os direitos reservados)

Enquanto em outras ocasiões bandas consagradas como o Café Tacvba (2017) foram recebidas com desdém por plateias mornas do Lolla BR, os aplausos e mãos para o alto, de maneira condizente com a proposta despretensiosa de Paco e Ca7riel, se estenderam hoje a perder de vista. Pelo menos, foi o que se viu em momentos como “Pirlo”. Era outro contraste, desta vez com as reações observadas em dias anteriores, quando fãs dos headliners, quase fundidos à grade, se mostravam entediados em relação às longas horas de espera pelas atrações iniciais.

A experimentação do som em que aposta o duo argentino, que vive uma crescente de ouvintes na América Latina, foi expressa além dos arranjos que remetiam a uma estética jazz. Ca7riel apareceu em cena usando uma blusa que trazia os dizeres “Adoro DJ’s”. Era uma homenagem ao disco celebrativo e final lançado pelo duo NoPorn, formado pela saudosa Liana Padilha (1963-2024) e Lucas Freire — referências da cena eletrônica brasileira.

Foto: Dri Spaca (Papelpop, todos os direitos reservados)

Sem falatório, o show se mostrou prontamente focado na música, embrazando um encadeamento de faixas que foi, pouco a pouco, construindo uma esfera funky ao seu redor. Isso se viu de maneira ainda mais clara em momentos como “Cosas Ricas”, “Re Forro” e “Mi Diosa”, este último um registro com letra e batidas que poderiam, facilmente, incorporar elementos de funk.

Mesmo sentados durante quase todo o percurso, os músicos conseguiram captar a atenção por intermédio de uma malemolência pouco vista nesta edição. Provocativos até mesmo na ideia de cantar sem a companhia de grandes aparatos, uma contraproposta ao status de celebridade recém-adquirido e seu poder crescente, Paco Amoroso e Ca7riel não só pavimentaram o caminho para novos shows no Brasil, como também expuseram fragilidades do Lolla.

Foto: Dri Spaca (Papelpop, todos os direitos reservados)

Mesmo nas entrelinhas, seu debut aponta uma defasagem da curadoria, cheia de vícios para com o mercado anglófilo — um movimento do qual foram vítimas nomes como Nathy Peluso, C. Tangana e a própria Rosalía, em período de consagração prévio ao LP “MOTOMAMI”: uma necessidade de segurança que aniquila a possibilidade de pautar novidades e correr riscos, mesmo que isso signifique um empobrecimento de seu percurso frente à riqueza ofertada por artistas emergentes na vizinhança.

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