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música

Morre aos 60 anos Liana Padilha, voz do NoPorn e antidiva da música eletrônica brasileira

A música eletrônica e a cena underground brasileiras estão de luto. Morreu, nesta quarta-feira (20), a produtora, ilustradora, cantora e poeta Liana Padilha. Era dela a voz por trás do duo NoPorn. Informações apuradas pelo jornal Folha de S. Paulo dão conta de que Padilha havia sido diagnosticada com um câncer.

Antidiva das noites, a cantora nasceu no Rio de Janeiro em 5 de maio de 1963, mas parecia carregar consigo a alma da cidade de São Paulo, tema central de sua obra e para onde se mudou mais tarde.

Com vinte anos de trajetória na música, o NoPorn, seu principal projeto, foi criado no fim dos anos 1990, época em que começou a fazer experimentos com o designer e DJ paulista Luciano Lauri Pires, que era seu amigo e do então marido e sócio, o estilista Regis Fadel. Ele morreu em 2000, aos 37 anos, vítima de um acidente vascular cerebral (AVC).

“Quando meu marido morreu, um rabino me disse pra ficar calma porque quando alguém nasce, a gente ri e o bebê chora… e quando alguém morre, a gente chora e a alma ri. Acho que é meio por aí”, escreveu Padilha, em uma troca de mensagens revelada pela também cantora Letícia Novaes, a Letrux.

“Amada Liana, você viveu o seu melhor e deu ao mundo o seu melhor. Obrigada por você ser você, mil vezes obrigada. Fico aqui te ouvindo, dançando, aplaudindo e aprendendo”, devolveu Letrux, que é “herdeira” desse legado musical.

Passados alguns anos, em 2006, o NoPorn ganhou as pistas de vez, de modo que marcou uma geração através de seu primeiro disco, homônimo. O LP trouxe faixas como “Xingu”, “Baile de Peruas”, “Sonia” e “Janelas”, ainda hoje tocadas em festas de música alternativa.

“Fui criada numa casa que a poesia tinha um lugar muito especial, meu pai é poeta e desde pequena eu decorava poesia e escrevia muito, mas sempre falei do meu jeito”, comentou Liana, em entrevista ao Papelpop publicada em abril de 2021.

“Acho chato coisas muito declamadas, muito decoradas, não gosto de rimas fáceis, acho até que não gosto de rimas, acho mais sincero falar no jorro de emoção que declamar, é o jeito que eu ouço na minha cabeça, às vezes vem tudo pronto. Acho que eu falo/canto como penso, com cadência e flow. Quando leio um texto já tem uma melodia nas palavras também”.

Com sonoridade glam, trabalho apresenta experimentos com funk, low tempo, 117bpm e poesia moderna (Foto: Aruan Viola)

Foto: Aruan Viola

Após fazer um hiato, que começou em 2012 para que se dedicasse à banda performática TintaPreta, Padilha retomou as atividades de seu duo, com a qual sua própria trajetória se confundiu muitas vezes.

Ao lado do companheiro Lucas Freire, que a acompanhou até o fim e passou a substituir Lauri, ela cantou sobre a noite, os amores, o sexo desenfreado e as drogas, sempre com uma ironia que a fazia chegar aos lugares mais sombrios e brilhantes da experiência humana.

Três álbuns inéditos foram editados a partir daí. Foram eles “Boca” (2016), “SIM” (2021) e “Contra Dança” (2022), além de uma coletânea de remixes recém-lançada em 2023. O projeto recebeu o nome de “ADORO DJs”.

“Vejo cada álbum do NoPorn como um livro com histórias do nosso tempo. Histórias íntimas de amor, de sexo, embaladas num som que faça com que você se mova, dance ou transe”, disse, em entrevista a este mesmo site, em abril de 2021.

Além de tocar em diversas cidades da Europa, como noticiamos em diversas ocasiões, o NoPorn encerrou de forma inesperada sua trajetória nos grandes palcos do Brasil. Em setembro do ano passado, tocou no festival The Town, em São Paulo.

“Eu sou escapista, ainda acredito na liberdade e acho que todos nós temos que buscar algum tipo de sonho, pra amadurecer sem ficar amargo”, prosseguiu, ao falar do disco “SIM”. “Do contrário a gente fica triste e apagado, e com raiva de quem tenta. E eu vou continuar tentando e me arriscando”.

A despedida acontece no Cerimonial Pacaembu, em São Paulo, nesta quinta-feira, das 18h às 21h30. Toda a obra do NoPorn está disponível nas plataformas digitais.

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