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(Ariana Lima / Divulgação)
(Ariana Lima / Divulgação)
música

Entrevista: Karin Hils vive momento mais pop com “Alô” e reflete sobre carreira multifacetada

Você deve conhecer Karin Hils. Talvez tenha sido conquistado por sua voz quando, ainda em 2002, ela passou a integrar o Rouge. Pode ter ficado impressionado ao vê-la em produções televisivas como “Pé Na Cova” (2013-2016) e “Carinha de Anjo” (2016-2018), ou encantado com as montagens “Mudança de Hábito” (2015) e “Donna Summer Musical” (2020-2022).

A carioca de Paracambi vem construindo uma carreira plural desde os anos 2000, desafiando-se nas diversas formas de arte. Sua empreitada mais recente é “Alô”, considerado o seu single mais pop e eletrônico até agora. Aqui, ela retoma seu lugar nos gêneros e aponta para onde quer ir: para frente, sempre.

Composta em parceria com Pablo Bispo, Ruxell, Sérgio Santos e Douglas Campos, responsáveis por hits de Anitta, IZA, Pabllo Vittar e Gloria Groove, a música trata de envolvimento emocional e desconexão nestes tempos marcados pela tecnologia e pela internet.

Com esse tema identificável e ritmo envolvente, o single se torna um passo essencial para a carreira musical solo de Karin. Nele, ela se sente mais confortável e confiante com sua pluralidade, mesmo que ainda esteja aprendendo a trilhar seu caminho e seus sonhos nas indústrias pelo Brasil.

Em entrevista ao Papelpop, Karin Hils abre o coração sobre a própria carreira. A cantora, compositora e atriz do Rio de Janeiro fala sobre “Alô” e “Donna Summer Musical”, sobre pop e Rouge, sobre gerações e redes sociais, e muito mais. Leia a seguir!

Papelpop – “Alô” é descrita como sua faixa mais pop e eletrônica, mas você vem acumulando experiências com pop desde que integrava o Rouge. O que “Alô” tem de diferente de tudo que você já fez? Por que essa é a faixa mais pop e eletrônica?

Karin Hils – Essa música foi a primeira desde que eu virei a chavinha da minha carreira solo. Em 2019, percebi que ainda não tinha uma obra minha de fato, praticamente, e muito bem, graças a Deus, obrigada, terceirizando a minha arte para projetos que às vezes nem tinham o meu nome. Eu queria iniciar essa jornada porque, até aquele momento, eu estava muito perdida em relação a toda a minha pluralidade musical. Poxa vida, eu gosto e quero cantar tudo. Se você olhar, a minha playlist tem de tudo, desde as coisas mais complexas, musicalmente falando, às mais populares e simples. A música sempre fez parte da minha vida, mas eu ficava tentando me colocar dentro de uma caixinha. Então eu fiz uma balada do jeito que eu gostaria de fazer, com bastante referência ao R&B, que era o que eu ouvia quando era adolescente e tinha vontade de gravar, uma música um pouco mais caliente e dançante: “Fogo”. Foi a primeira música que eu mesma escrevi e produzi no estúdio. Foi minha primeira música da vida. Tirar a letra baseada em uma história pessoal minha… eu nunca tive essa experiência antes, em quase 23 anos de carreira. Foi muito significante para mim. E aí veio “Alô”, que, na verdade, é uma composição de Campos que fomos adaptando. Eu acho que as pessoas vão se identificar direto com a música, porque, além de ser muito bem produzida pelos meninos, fala sobre uma coisa tão cotidiana que é a falta de comunicação, o equívoco, a piração que a gente tem hoje com o WhatsApp. A gente fica imaginando o que a pessoa está pensando e por que não respondeu, o que gera uma tremenda ansiedade na gente. Quando a pessoa não coloca aqueles dois tiques azuis, você fica, tipo: “puts, ela leu ou não leu?”. Hoje em dia, a gente tem a ideia de que um emoji responde e fala muita coisa [risos]. A complexidade e a simplicidade em toda essa construção do meu trabalho vem das coisas que eu ouço e do pop em si, que eu acho que é muito simples e genial. É bem diferente do que eu imaginei fazer e, ao mesmo tempo, sou eu. Sou 100% eu.

Papelpop – Agora que você passou por esse processo, pode dizer se é realmente esse o caminho que você quer seguir na sua carreira solo? Ou explorar o pop e o eletrônico como fez agora é uma experimentação? O que “Alô” significa?

Karin Hils – Significa que estou reiniciando a todo o momento e tentando me encaixar no fluxo da música atual. Eu, graças a Deus, tenho outras atividades. Me encontrei também como atriz e preciso ter tempo para isso. Não quero ficar dentro de uma caixinha, eu quero ter tempo de fazer todas as coisas que posso, sei e quero fazer. É o desejo da minha alma fazer um álbum. Sei lá como ele vai ser, só sei que eu vou entrar [no estúdio] e dar o melhor de mim. Tenho certeza de que as pessoas vão entender porque, embora eu transite nesses diversos lugares, eu falo a linguagem do meu povo. Não estou transitando em um lugar que não é meu. Eu vim da pop music. Se eu não fosse pop, eu não teria entrado no Rouge. Se eu não me comunicasse com esse público, muitas coisas não teriam acontecido. Acho que a vida está aí para ser vivida e experimentada todos os dias, enquanto a gente tem saúde e oportunidade. A gente, como ser humano, saiu de um período caótico e a lição que a gente tirou foi: faça, seja, agora é agora e amanhã a gente não sabe. Estou nesse movimento. Acho que “Alô” está saindo no momento que tinha que sair, porque eu estava organizada para isso, estava preparada para me dedicar e me desfrutar.

Papelpop – A pandemia aflorou ainda mais essa vontade de expressar seu verdadeiro eu na música?

Karin Hils – Com certeza. Não tem quem não tenha sido impactado. Isso foi muito transformador na vida pessoal de cada um. Tive momentos de depressão horríveis e ressignifiquei muita coisa na minha vida, até a minha relação com o meu trabalho. Eu sempre coloquei o meu trabalho em primeiro lugar na minha vida e estava deixando algumas coisas da minha vida pessoal [de lado]. Entendi que não dá para ter tudo e que nada é perfeito nessa vida. O que resta é caminhar da melhor maneira que você acredita que pode ser.

Papelpop – O que eu acho legal é que “Alô” vem logo depois de “Sente a Pressão”, que é uma música que fala sobre quem você é, sobre sua trajetória e sobre o seu som. É como se “Alô” chegasse agora para reafirmar o seu próprio espaço. Você pensou nessa “ligação” entre os singles? Como funciona o seu processo criativo?

Karin Hils – Embora eu tenha mais de 20 anos de carreira, ainda estou aprendendo. De fato, fiquei distante da música durante muitos anos, me dedicando a outra arte e a outra parte da minha vida. Acho que, na volta do Rouge, a gente teve uma dificuldade de acompanhar o timing dos lançamentos, porque a gente vinha de outro tempo. A internet hoje é muito rápida. Eu sou uma pessoa que ainda hoje, embora esteja na internet há muito tempo, ainda aprendo a lidar com ela porque o meu ponto de vista é outro. Eu sou de outra geração, vou fazer 44 anos [risos]. Então, eu trabalho com o que eu tenho, com as coisas do momento. Houve esse pensamento do que seria melhor para o momento, mas também do que fazia sentido para mim, na ordem dos lançamentos. Talvez eu tenha uma visão em movimentos românticos demais em relação a esses cenários, sabe? Mas agora, neste início, estou precisando desse romantismo, desse timing, desse degustar de tudo que estou fazendo, porque hoje não há essa degustação. As coisas estão rápidas demais.

Papelpop – Sendo de outra geração, como disse, você se sente pressionada nesse universo online? Como é a sua relação com as redes sociais e plataformas digitais hoje em dia?

Karin Hils – Acho que, acima de qualquer coisa, a gente precisa se respeitar. Se ficar 24 horas na internet é aquilo que faz sentido para você, maravilha. Para mim, como vim de outra geração, é outra realidade. E não cedo às pressões das pessoas, de maneira nenhuma. Sou muito criticada às vezes, até pelo meu assessor, que fala que tenho que estar mais na internet [risos]. Preciso estar. Mas também preciso ser verdadeira comigo. Às vezes eu fico um tempão sem postar stories. É a minha ferramenta de trabalho, preciso do engajamento, mas também acredito que as pessoas que estão lá entendem e respeitam esses meus movimentos. E é maravilhoso ter a oportunidade de mostrar também um outro lado da Karin, que eles não faziam ideia de que existia. Lembro do período em que fiquei comentando reality show nos meus stories… foi muito bom. Na maioria das vezes, eu estava falando a mesma coisa que as pessoas estavam pensando, então mostrar um outro lado meu, tão próxima deles, foi bacana. Também teve a minha primeira caixinha de perguntas, que foi uma polêmica do caramba [risos]. Eu tento me manter saudável diante das redes sociais e trocar, conhecer os meus fãs, porque tem muita coisa ruim na internet, né?

Papelpop – Você fala tanto sobre ainda estar aprendendo e tentando, mas aposto que já aprendeu muita coisa ao longo dessas duas décadas de carreira. Qual foi o seu maior aprendizado até agora?

Karin Hils – Eu aprendi muito sobre mim e sobre minha força interna, principalmente no período do Rouge. As pessoas me veem como uma mulher forte hoje, uma mulher empoderada, uma mulher independente, uma mulher preta com representatividade, mas eu nem sempre fui assim. Às vezes, a gente se limita sem ter por quê. Aprendi também que a gente tem que ter inteligência emocional para tentar administrar as coisas ruins que acontecem na nossa vida e tentar ressignificar aquilo como uma coisa boa, um aprendizado. Mas, sem sombra de dúvidas, o que mais aprendi foi força. A força de viver neste país, de continuar vivendo da minha arte, de tentar fazer a diferença na vida das pessoas e na minha. É sobre força.

Papelpop – Além dos singles, você também está trabalhando em “Donna Summer Musical”. Como tem sido essa experiência? Imagino que seja uma responsabilidade tremenda dar vida a esse ícone da música nos palcos.

Karin Hils – É uma honra poder interpretar essa grande artista da música pop mundial. Ela deu início a um segmento musical que marcou uma geração e uma década, trazendo elementos modernos na música com simplicidade e complexidade. Isso vem se propagando até hoje. Ela teve alguns conflitos no início da carreira, querendo ser reconhecida e ter mais liberdade musical. Teve problemas com empresários e abriu mão de muitas coisas. Sofreu uma série de violências ao longo da carreira e sobreviveu, viveu e marcou uma geração. É uma história de de uma mulher preta de um empoderamento tão grande. É uma honra muito grande cantar a música dela, viver essa personagem e poder estar em um lugar que foge um pouco do estereótipo que colocam na mulher preta, em um lugar de glamour e brilho. Porque a nós, mulheres negras, foi retirado o direito de cantar o amor. Infelizmente, na maioria das vezes, a gente só pôde cantar tristeza.

Papelpop – Você diria que “Donna Summer Musical”, ou a própria Donna Summer, influencia seu atual trabalho como cantora?

Karin Hils – Sem sombra de dúvidas, me influencia. E a gente vai propagando essa influência porque ouço de meninas que vão lá [assistir ao musical]: “caramba, Karin, quando eu sento ali, vejo que é possível. É tão lindo. Acho que a gente pode também”.

Papelpop – Além de “Alô” e “Donna Summer Musical”, o que mais você está preparando para 2022? Tem mais projetos musicais ou de atuação vindo por aí?

Karin Hils – Eu encerro “Donna Summer” e começo a ensaiar um outro musical. Além disso, encerrei a temporada de “O Coro” na Disney e já estou em preparação para outra série. E quero entrar em estúdio. Se vai ser um single novamente ou um álbum… vou entender quando chegar lá. Eu tenho muita vontade de fazer um álbum ainda este ano. Será que dou conta, Deus? Bora [risos].

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