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Foto: Caio Gimenes
Foto: Caio Gimenes
música

Thiago Jamelão fala sobre inspiração para o single “Morada” e processo criativo do EP “Sóis”

Chegando no mercado como um artista solo, Thiago Jamelão lançou nesta quinta-feira (7) seu primeiro single, “Morada”. Composta em parceria com Emicida, com quem o artista já possui uma relação de trabalho e amizade há muitos anos, a faixa precede o EP “Sóis”, previsto para maio deste ano. 

Apesar deste ser o seu primeiro trabalho oficial, a história de Thiago na música vem de muito antes. Quando jovem, ainda em Goiânia, sua cidade natal, ele começou a cantar na igreja e montou sua primeira banda de rock com alguns amigos. 

Após se mudar para Brasília, em 2008, deu início a outras experiências. Além da banda Ataque Beliz, que era focada em jazz e rap, Thiago também trabalhou com grupos de pagode, jazz, sertanejo e axé, dentro e fora dos palcos. Quando foi para São Paulo, focado em seu trabalho autoral, ele criou um vínculo com Emicida e os dois começaram a fazer música juntos. 

Depois dessa caminhada, com referências que incluem nomes como Djavan, Gilberto Gil, Rashid, Kamau, Péricles e Jonh Coltrane, além do próprio Emicida, Thiago aposta uma música mais calma para seu primeiro lançamento, cantando sobre a sua relação com o lar e o que a palavra “Morada” significa para ele. A canção vem acompanhada de um clipe que mostra um lado mais íntimo do artista, gravado dentro de seu quarto. 

Confira: 

Em entrevista ao Papelpop, o cantor, compositor e multi-instrumentista falou um pouco sobre o que a música significa para ele, como foi o processo de criação do EP “Sóis” e quais serão os seus próximos passos. 

Sobre “Morada”, o que você quis passar para o público? O que essa música significa para você e o que as pessoas podem esperar dela? 

A minha expectativa da morada era ter um lugar, porque eu fui um cara que, quando mais novo, não tive casa. A gente morava num barraco de lona, no meio do mato. Então eu sempre quis ter uma morada, um lugar fixo. Quando você vai amadurecendo, você vai entendendo que morada não é só um lugar. Você vai entendendo que morada é o abraço da minha mãe, sabe? Morada é a gente de mãos dadas ali, fazendo uma oração, pra ver o que vai ter de comer naquele dia. Várias vezes nós não tínhamos o que comer. Então morada foi a fé. Morada foi um amigo que me presenteou com um tênis. O amor mesmo, o cuidado com o outro. Então “Morada” vem disso. O mais louco é que, quando surge essa canção, ela parte do Emicida, porque quando nós começamos a conversar sobre o dia-a-dia, paramos no assunto de infância e foi cruzando, eram muitas histórias parecidas. Eu vivendo minha vida em Goiânia, ele em São Paulo, e quando contava era tipo “mano, eu vivi isso também”. Aí eu saí de Goiânia, fui pra Brasília, comecei a ter essa vivência lá, depois fui pra São Paulo. Aí ele pegou o papel e começou a escrever, eu peguei meu violão e a gente foi junto. Quando começa “catei meu sorriso, meu coração ferido, caminhos percorridos”, é esse caminho todo, sabe? Desde a infância até agora. 

Como foi essa experiência de, já no seu primeiro lançamento para o público geral, ter o Emicida trabalhando com você na composição da música? 

Primeiro que a gente tem um dos maiores artistas dessa geração. Foi um aprendizado gigantesco, porque ele tem um papel muito importante. No momento em que eu decido parar de fazer música, ele é o cara que me puxa e diz “não, você não pode deixar isso, vamo tá junto, mano”. Quando eu falei pra ele que achava que nem sabia mais como fazer isso, ele diz “mano, pega o papel e escreve tudo o que você ta sentindo”. Ele é o cara que é responsável por esse processo de: se agora eu estou fazendo algo que eu sempre amei e que em algum momento eu pensei em parar, é por ele, por conta dele também, tá ligado? Ele é o cara que me deu essa motivação maior. Então quando ele traz essa luz, eu falo “é quente, mano, eu sei fazer isso e vou continuar fazendo esse barato”. Ele dirigiu mesmo artisticamente, a gente trocando ideias. Quando eu vi que nós estávamos falando sobre várias coisas, eu disse “mano, meu EP tem que falar sobre isso”. Ele tem um papel muito importante nesse processo.   

E como “Morada” se conecta com as outras músicas do EP? O que você quer contar com “Sóis”?

Eu sempre falo que esse EP é uma crescente, ele é o início do nascer do sol. “Morada” é a segunda música do EP, ele abre com uma música chamada “2000 e Alguma Coisa”, que fala desse momento presente, “sei que não sou só eu que sinto esse vazio em 2000 e alguma coisa”. E aí ele vem pra “Morada”. Na verdade, todas essas músicas se conectam com esse sentimento do antes para o agora e tem esse barato e eu contar a minha história, contar como eu me sinto, por onde eu passei. É o meu cartão de visita esse EP, fala um pouquinho do Thiago Jamelão, o que ele passou, o sentimento do que ele ouviu, tá tudo impresso em “Sóis”.

Sobre a sonoridade, o que te influenciou a começar com esse som um pouco mais calmo? O resto do EP segue esse mesmo estilo ou tem diferentes gêneros musicais?

O início desse EP foi o seguinte: eu estava num bloqueio e eu não sabia de onde partir, aí, mais uma vez conversando com o Emicida, ele me trouxe uma luz. Então quando eu decidi fazer esse EP, o símbolo era “feito é melhor que perfeito”, a ideia era fazer um voz e violão e tudo o que eu pudesse tocar. Eu arranho um pouquinho de todos os instrumentos, meu primeiro foi bateria, mas eu falei assim “mano, tudo o que eu puder tocar no estúdio sozinho, eu vou fazer”. Mas a ideia, quando eu comecei a fazer, eu pensei que essa música  [“Morada”] tinha que ser voz e violão, por exemplo. Aí eu fiquei ouvindo voz e violão, gravei outro violão, dois violões, aí eu falei “não, acho que essa música cabe um teclado ainda”. Depois ainda pensei que poderia caber um sax, um instrumento de sopro. Aí a outra começou nessa mesma energia, mas depois eu percebi que cabia uma percussão, então quando eu comecei a visualizar foi mudando tudo. A terceira música mesmo, que é “Diálogo e Sobrevivência”, já é com um beat produzido, mas tem guitarra também que eu toquei, tem baixo, tem uma levada um pouquinho mais rap. Tem uma outra que tem mais percussão, guitarra, teclado, mas também tem programação. Então é uma crescente, a gente começa com algo mais orgânico, depois tem uma introdução eletrônica com mistura orgânica. Começa mais calmo e depois explode. 

E depois de “Sóis”? Você já está pensando em qual vai ser seu próximo trabalho? 

Sim, já está metade do caminho andado pra um segundo EP que quero lançar até o final do ano, tipo um “Sóis 2”. Ele vai ter um pouquinho mais de rap. As pessoas que ouviram o “Sóis” classificam como uma nova MPB com R&B, eu acho que o segundo vai ser um pouco mais R&B e rap e menos dessa MPB. Não sei, porque ainda estou experimentando algumas coisas. 

Como é para você ser um dos artistas que estão chegando nessa nova onda, encabeçada por nomes como o próprio Emicida e o Criolo, que abriram mais espaço para o rap no Brasil? 

Mano, de verdade, eu acho grandioso. Quando eu comecei a fazer minha música e escrever, eu nunca consegui olhar pra tão longe, até por conta do lugar que eu venho, da forma que eu vi a vida, eu achava que a música que eu fazia nunca chegaria em nenhum lugar, porque a música que a gente ouve na rádio segue uns padrões. Até hoje quando você vê um mainstream , a música tem um padrão. E quando você vê um artista como o Emicida no lugar que ele tá, como o Criolo, tendo a poesia também mas tendo a questão do verso livre, essa coisa misturada, eu acho f*da. Hoje eu paro e falo assim “caramba, a música que eu fazia antes hoje tem espaço”, sabe? Eu acho isso muito louco.

 

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