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(Wilmore Oliveira / Divulgação)
(Wilmore Oliveira / Divulgação)
música

Entrevista: Scalene mistura sons e sentimentos no álbum “Labirinto”

Quando Gustavo, Lucas e Tomás começaram a compor o novo álbum do Scalene, eles não imaginavam que enfrentariam dois anos de pandemia. As primeiras letras surgiram ainda em 2019, um ano antes do mundo inteiro se transformar.

Claro que o processo criativo dos músicos se transformaram também, mas eles não pararam de escrever. Entre 2020 e 2021, o Scalene encontrou seu conceito, explorou sua sonoridade, reuniu suas vivências e deu vida a seu “Labirinto”.

O disco chegou às plataformas digitais na última sexta-feira (11) com 13 faixas tão explosivas quanto introspectivas, revelando novos e velhos aspectos da banda. Um convite para a reconstrução no mundo de agora, com muito rock.

Em entrevista ao Papelpop, Lucas Furtado revelou os caminhos de “Labirinto”. O baixista do Scalene falou sobre o impacto da pandemia do coronavírus na produção musical, o processo criativo do novo álbum e os planos de uma futura turnê.

“Labirinto” é o quinto álbum de estúdio do Scalene. Me diz, quanto mais discos vocês têm, vocês ficam mais seguros ou mais ansiosos em relação a um lançamento?
Eu não diria que a gente fica mais ansioso porque há uma parte do processo que a gente já domina e entende, o que dá uma segurança. A gente fica muito tranquilo em relação a algumas coisas. Mas a gente também tem um pouco mais de responsabilidade e até de expectativa a cada degrau que a gente sobe, a cada patamar diferente. Então sempre tem uma questão de “isso aqui tem que ser mais legal que o outro”, “temos que fazer tal e tal coisa diferente” ou “tal coisa já funcionou e a gente pode fazer igual”, ao mesmo tempo em que queremos fazer uma parada nova, usar a estrutura que estamos inseridos e a nossa experiência para dar um passo maior. No fim, sempre tem um friozinho na barriga e tem uma responsabilidade, mas a gente pensa: “beleza, vamos passar por isso de novo. Estamos preparados. Vamos nessa”.

E vocês tiveram tempo para internalizar tudo isso, não foi? As composições foram feitas entre 2019 e 2021, resultando em dois anos de construção de “Labirinto”. Talvez por isso, diferentes temas norteiam o projeto: solidão, tecnologia, autoconhecimento, evolução. Como foi o processo criativo desse novo álbum?
Isso é bem interessante de comentar. O álbum começou a ser criado lá em 2019, mas naquela época a gente sabia muito pouco do que ele ia ser em 2021, quando foi gravado, ou em 2022, quando foi lançado. A gente não tinha conceito, nem sabia que a gente ia enfrentar uma crise mundial. As coisas começaram com ideias simples: “a gente pode explorar mais isso”, “olha essa sonoridade”, “olha esse riff”. Não foi um conceito que se criou no início e a gente foi desenvolvendo até agora. Foi durante a pandemia, entre 2020 e 2021, que a gente começou de fato a pensar no que esse disco seria e entrou nesse processo de conceituação. E aí entraram nossas experiências, o que a gente queria falar, o que valia a pena falar dentro do que a gente está vivendo. Afinal, 100% das pessoas do mundo estão passando por uma coisa com a qual a gente pode se relacionar. Algumas estão lidando de um jeito, lidando de outro, fazendo coisa certa, fazendo coisa errada, mas o ponto é que está todo mundo nessa. Então isso transpareceu para o conceito final, para a estética, para a forma de produção. A gente sempre fala que “Labirinto” não é um disco sobre a pandemia porque não traz críticas às pessoas ou situações desse momento histórico, mas a gente se enxergou, e muitas pessoas se enxergam, tendo que lidar com situações do mundo atual. O disco fala sobre isso, sobre quem você realmente é, quem você quer ser no mundo de agora e daqui para a frente. Essa é a proposta. Então tem uma carga da dor, do sofrimento. Acho que teria de qualquer forma, mesmo se não tivesse a pandemia. Mas, com ela, isso aflora e a forma com que a gente enxerga isso é diferente. Isso fez parte do processo e do conceito.

Colocar suas experiências e seus sentimentos nas músicas ajuda a digeri-los?
Existe esse aspecto “curativo” da música, pelo menos para a gente. Essa pergunta é interessante porque eu, o Tomás e o Gustavo sempre nos alinhamos muito bem com o conceito dos nossos discos. Eles apontavam para uma direção. Mas esse novo disco… cada um de nós tem uma interpretação diferente a respeito dele. Para mim, tal música fala sobre uma coisa. Para o Tomás, pode ser sobre outra. Acho que cada um, à sua maneira, botou para fora o que queria nas músicas. A gente não está necessariamente botando o mesmo sentimento ou a mesma ideia em cada canção, mas, para a gente, funciona assim e eu espero que isso reverbere nas pessoas. Espero que elas também projetem o que estão sentindo ou o que querem. Esse não é um disco que a gente vai ficar explicando muito. Não há muita explicação a respeito. Algumas coisas são claras, perfeitas e transparentes. Outras, não. Se uma te perturbou, te causou alguma sensação, a resposta disso está em você e não no que eu estou te falando. Isso também está dentro do aspecto curativo. Propor às pessoas, ser um vetor de questionamentos é uma coisa que a gente espera muito que aconteça.

Sobre essas diferentes interpretações, Gustavo chegou a definir o álbum como “um passo para fora da zona de conforto”. Ele se refere aos temas abordados ou à sonoridade de “Labirinto”? O que você acha que ele quis dizer com isso?
Acho que ele se refere à sonoridade e à forma de produção, como a gente teve que tocar esse barco e consequentemente como esse disco acabou soando. Uma coisa anda atrelada à outra. Mas a gente sempre se propõe a sair da zona de conforto. A gente nunca quer fazer o mesmo trabalho, repetidamente. A gente sabe que a gente tem uma essência sonora e uma identidade forte, mas os nossos trabalhos, antes mesmo de ter um conceito, têm a proposta de serem diferentes. Às vezes a gente resgata uma coisa lá de trás, do primeiro álbum, com uma cara diferente, ou vai para uma direção totalmente nova, com uma coisa que a gente descobriu recentemente. A gente nunca quer [que as pessoas pensem] “ah, beleza, mais um CD do Scalene”. A gente quer “o que vai vir agora no CD do Scalene?”. Essa sempre foi nossa mentalidade, desde o primeiro álbum. Então, a saída dessa zona de conforto também está ligada a isso, de saber que a gente não vai se repetir e que a gente vai quebrar a cabeça para encontrar novas formas de explorar sons.

Falando em explorar sons, vocês trazem rock, trip hop, stoner rock, pop punk em “Labirinto”. Há momentos hardcore, bem explosivos, e outros mais calmos. Como foi explorar temas como autoconhecimento dentro desses ritmos? Como foi o desenvolvimento dessa sonoridade?
Esse é um aspecto que a gente sempre trabalhou. Desde o primeiro álbum, a gente nunca teve problemas em ter coisas muito compostas convivendo dentro do mesmo trabalho. A gente gosta disso e sente que consegue explorar bem porque a gente gosta de coisas muito diversas e vai atrás de referências muito “longes” umas das outras. Isso acaba compondo um trabalho como um amálgama. Em relação a esse novo disco, especificamente, foi legal ver como isso foi se estruturando, como a gente foi compondo, como a gente foi criando o conceito, como as coisas foram se desenvolvendo, como tem uma metalinguagem incluída. Porque esse disco fala sobre uma exploração interna, sobre estar em contato consigo mesmo, sobre sentimentos, sobre sensações. Então, sonoramente, ele te propõe a se permitir sentir as emoções feias, desagradáveis e até um pouco “violentas”, mas também te permite sentir uma calma, uma tranquilidade, uma serenidade, e entender que não adianta ficar put* porque você está put*. Se você está put*, se permita sentir isso. Se você está tranquilo, não precisa se estressar porque você está tranquilo demais. Aproveite e não se sinta culpado. A gente está falando sobre uma coisa e, enquanto você ouve, você pode senti-la também. [A sonoridade] Casou incrivelmente bem com essa nossa proposta.

Vocês já estão pensando em cantar essas músicas ao vivo, reencontrando o público depois de tanto tempo sem shows por causa da pandemia? Podemos esperar uma turnê de “Labirinto” em 2022?
A gente pretende circular esse disco, sim. A gente ainda tem que organizar algumas coisas porque existe uma camada de incertezas, não é? A gente não sabe se semana que vem chega uma variante maluca aí. A gente tem que entender como tudo vai funcionar neste novo mundo porque todo mundo está sujeito a ficar doente a qualquer momento, mesmo estando vacinado e protegido. Isso é algo que a gente vai entendendo ao longo do tempo. Mas a nossa intenção é uma turnêzinha de lançamento desse disco, tocar em vários lugares, ter bastante shows, fazer o que for possível de fazer. A gente deve anunciar as datas em breve para começar tudo em maio.

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