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Laura Pausini: “De alguma maneira, estou me tornando amiga da Laura que fui adolescente”

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Foto: Omar Cruz/Divulgação
Foto: Omar Cruz/Divulgação

Laura Pausini, então aos 18 anos, sobe ao palco do 43º Festival de San Remo, na Itália. O ano é 1993 e todos os olhares se voltam para ela, uma garota promissora vinda da comuna italiana de Faença. Em cena, ela canta o que viria a ser seu primeiro grande sucesso internacional, “La Solitudine”.

À primeira vista, parece pequena para o blazer com grandes ombreiras que usa, mas a voz imponente a leva a vencer a categoria de artistas iniciantes. Em pouco mais de um ano, passa a lotar arenas e a vender milhões de discos.

Quase 30 anos dividem essa ocasião e a estreia de “Scatola“, faixa que lançou no fim de janeiro. Na letra, fruto de uma colaboração com a jovem compositora Madame, Pausini se permite iniciar um diálogo com uma versão adolescente de si mesma

“Ela [Madame] viu um post no meu Instagram em que eu aparecia com meus colegas de escola”, conta, em espanhol, por telefone. “Inspirada nisso, compôs uma música sobre a amizade e me mandou por WhatsApp, exatamente às 12h41 do dia 10 de março. Quando eu a escutei, e conforme a música foi avançando, entendi que o destinatário não eram os meus amigos, e sim eu mesma. Pensei muito no meu eu adolescente e nos sonhos que tinha, mas também no que sou hoje. Foi aí que vi a Laura adolescente e a Laura adulta se encontrando através das memórias”.

A audição da demo coincidiu com a escrita do roteiro de “Laura Pausini: Prazer em Conhecer“, filme para o qual foi escolhida como trilha sonora. Original do Amazon Prime Video, a película tem direção do renomado Ivan Cotroneo e lançamento mundial programado para ainda este ano. Até onde é possível dizer, deve repassar sua história a partir de reflexões ainda desconhecidas pelo grande público.

Hoje aos 47 anos, Laura faz uma análise e diz que se sente muito parecida com a garota vencedora do San Remo, há 30 anos. Nesta terça-feira (2), por exemplo, ela retorna ao festival na condição de convidada especial.

“‘Scatola’ termina dizendo ‘Somos a mesma coisa, somos iguais’ e acho que estas memórias que resgatei podem ser muito profundas se você as conserva bem. Eu mesma só me permiti compreender o quanto sou idêntica ao que era quando tinha 12, 13 ou 16 anos, ainda que reconheça algumas mudanças, quando me permiti revisitá-las”, explica.

O ano de 2021 foi marcado por feitos, entre eles duas indicações ao Oscar e ao Golden Globes. Deste último, saiu vitoriosa.

“Há algumas coisas que são fundamentais na minha personalidade, eu penso muito. Até pouco tempo, não achava meus sonhos tão ambiciosos, mas vejo agora que, na verdade, eles sempre foram. Então, posso dizer que acho que esta nova canção acaba sendo dedicada também a uma amizade porque, de certa maneira, estou me tornando amiga da Laura que fui adolescente”.

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Foto: Reprodução/Twitter

Se o ineditismo de suas conquistas parece abrir um novo capítulo na história da mulher italiana, ela busca falar antes da influência que teve de Rafaella Carrà. A cantora e apresentadora italiana, de quem era amiga e fã, faleceu aos 78 anos, em julho de 2021. Não sem antes alçar seu nome ao posto de uma das artistas mais populares da Europa.

Carrà, que ganhou notoriedade ainda na década de 1970 por suas canções e performances efusivas, também se atreveu a desafiar a Igreja Católica ao usar figurinos ousados e a romper com os vícios e propostas indecentes de Hollywood no que tinha tudo para ser uma carreira promissora.

Trilhou outro caminho, ignorando, aliás, os limites geográficos. Terminou sendo a primeira artista pop italiana a cantar em diferentes idiomas, ocupando um estandarte de respeito na televisão. Seu carisma e atitude expandiram a fama para países latinos como Argentina, Peru e Espanha. Tornou-se, nas palavras de Pausini, “uma cidadã do mundo”.

Laura Pausini y Rafaella Carra 2008 (Parte 1/2) - YouTube

“Para a Raffaella eu faria uma homenagem a cada minuto”, diz, depois de pensar um pouco. “E o faço, na verdade, porque canto o tempo todo as músicas dela. Diariamente, sinto que ela vive dentro de mim através do que tentou ensinar nestes anos todos, especialmente, no que diz respeito a ser uma mulher corajosa e comprometida com o próprio talento. Olhando de fora, parece até que ela teve uma jornada fácil, muito divertida, mas, cotidianamente acaba sendo uma tarefa muito complicada. Imagine uma mulher que tem que batalhar todos os dias contra milhares de obstáculos impostos pela indústria até se tornar conhecida. É ainda mais difícil tendo uma personalidade tão direta, sincera quanto a dela”.

Para a cantora, a admiração que sente parte, principalmente, de um princípio de perseverança. “Acho que todos os famosos tem um pouco sorte, repito esta palavra desde o primeiro dia da minha carreira. Mas a constância, a disciplina com que ela se preparou a nível musical, inclusive dançando e comandando programas de TV, aprendendo idiomas, viajando, sozinha muitas vezes, acaba sendo uma experiência em que a vida não é completamente sua. Raffaella teve uma vida dedicada a se dividir com os outros, onde havia dois lados. Um lado maravilhoso e outro repleto de solidão. É por isso que eu a amo, a admiro e vou adorar a cada dia da minha vida”.

De fato, a Itália nunca saiu da rota do entretenimento de massa. Em dezembro, chegou à Netflix uma adaptação de “A Filha Perdida”, romance escrito pela napolitana Elena Ferrante e estrelado por Olivia Colman. O longa se dedica a narrar dilemas e obsessões ligados à maternidade. Ao ouvir que o filme tem alcançado sucesso semelhante ao de outros títulos da autora como “A Amiga Genial”, Pausini celebrou.

“Fico superorgulhosa em saber que a obra de Ferrante tem chegado tão longe, ainda mais ela sendo ariana, um signo que gosto tanto”, brinca. “Sinceramente, vejo o presente como um momento especial porque são tantas as mulheres mostrando seu talento fora da Itália. Por muito tempo me senti sozinha nessa tarefa”.

Embora as ambições estejam claras, ela prefere dar um passo de cada vez. Há um ano, contou em entrevista a este mesmo site que estava imersa em pastas e arquivos para a escolha do repertório de um novo álbum. Mencionou ter ouvido cerca de 500 canções, enviadas por compositores de diferentes estilos e lugares.

“Isto vou te dizer em português. Escutei tanta coisa, mas sigo trabalhando em músicas novas. Muitas. Sei que por enquanto não estou pronta, devo terminar [o disco] até o fim do ano. Até lá, ouçam ‘Scatola’ e o que eu tenho para dizer”.

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