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Foto: Divulgação/Nick Spanos
Foto: Divulgação/Nick Spanos
música

Diane Warren, musa da composição: “Gosto de estar em todos os lugares ao mesmo tempo”

Sentada diante de uma larga janela com vista para a cidade, Diane Warren toma fôlego e repassa brevemente sua rotina diária. “Sabe, eu sou muito disciplinada, já começo o dia trabalhando”, explica. Constantemente em busca de um lugar calmo para escrever, ela conta que o processo criativo, responsável por originar alguns dos maiores clássicos da música pop, depende de muito foco.

— No fim das contas, eu não diria que é algo complicado. Mas eu realmente entro no momento e tento criar as melhores canções que posso.

Autora de uma destacada lista de baladas, ela está há quase quatro décadas escrevendo para nomes como Céline Dion, Cher, Lady Gaga e Gloria Estefan — a lista é bastante extensa. Warren também foi 11 vezes indicada ao Oscar, a última delas em 2021 na companhia da amiga Laura Pausini. Juntas, elas compuseram a faixa “Io Sì”, tema do filme “Rosa e Momo”.

No Grammy seu nome apareceu outras 15 vezes entre as nomeações. Aos 65 anos, decidiu que era hora de fazer um disco para finalmente chamar de seu. Para dar forma ao desejo, batizado como “The Cave Sessions, vol. 1” (“Sessões da caverna”, em tradução literal para o português), convocou distintos nomes das mais variadas gerações para interpretar uma reunião de composições inéditas.

Além de Dion, que gravou nos anos 1990 sucessos como “Because You Loved Me” (1996) e agora retorna para a parceria “Superwoman”, “The Cave Sessions” convida de jovens a veteranos como John Legend, James Arthur, G-Eazy, Santana, Maren Morris, Jon Batiste, Pentatonix, James Arthur, Paloma Faith, Leona Lewis e James Morrison, entre outros. A música hispânica também marca presença nas figuras de Santana, Reik, Luís Fonsi, Lauren Jauregui e Sofía Reyes.

Sem respeitar critérios de unidade, a obra vai de um extremo a outro coletando referências de universos díspares. A estratégia que, segundo Warren, representa um desejo constante de versatilidade.

— O nível de variedade que vou empregar no meu trabalho, na minha carreira me preocupa. Eu escrevo para todos esses artistas, o que destoa da maioria dos compositores prefere focar só no hip hop ou no country, por exemplo. Eu meio que gosto de estar em todos os lugares ao mesmo tempo, com frequência penso em fazer um disco com canções doces, ao mesmo tempo em que minha cabeça está para criar algo para a Céline Dion. De repente, surge vontade de fazer algo com que podemos dançar lentamente, tal qual fiz para o Luis Fonsi, ou uma balada que chicoteia o seu coração como a de John Legend. É interessante se perceber nessa posição de criadora e ouvir faixas diferentes, você nem mesmo consegue imaginar que se trata do mesmo compositor.

Por ZOOM, a artista também diz que não vê distinção entre a tarefa que desempenha e a de seus demais colaboradores.

— O que eu faço, basicamente, continua sendo a mesma coisa que os artistas que estão do outro lado fazem, cantando e produzindo. Mas o que existe de diferente agora é que se trata de um corpo de trabalho em que eu comando a curadoria, meu nome em si só está envolvido.

Entre as muitas posições que assume está também a de privilégio. Com a função de compositor incontáveis vezes relegada a um segundo plano, principalmente após a explosão do streaming, ela diz que o desapego ao material pode acabar sendo uma questão quando se trata de valorizar o trabalho alheio.

— Não quero ser nostálgica, mas quando você tinha CDs físicos você abria aquilo e folheava, tinha nas mãos todos os créditos, quem escreveu, quem tocou. Todos recebiam seus créditos e deveria ser assim apesar da modernidade. Agora é diferente, virou uma droga. Penso comigo como gostaria que fosse mais fácil, que fizéssemos todos um mergulho profundo na música e entendêssemos o lugar de cada um.

Um outro reflexo dos tempos é o desejo comum de alcançar o topo das paradas de sucesso, uma febre que em outras palavras transformou a indústria da música norte-americana em um terreno escorregadio, absolutamente competitivo.

Enquanto criadores perdem os cabelos tentando encontrar a fórmula do sucesso, Warren aposta em expectativas reais que envolvem singularidade de tempo e persistência.

— Às vezes é preciso parar e dar uma respirada. O que eu digo é: vá ao cinema, saia para dar uma caminhada, se permita tomar um drink. Depois volte ao trabalho —  diverte-se.

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