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Disco chega com clipe da faixa "Coladin" (Foto: Lana Pinho)
(Foto: Lana Pinho)
música

Banda Hotelo fala de “Início, Meio e Fim”, novo álbum: “A gente canta o amor em tempos de ódio”

A banda Hotelo estreou “Início, Meio e Fim”, terceiro álbum de estúdio, na última quinta-feira (10). O projeto chegou para concluir a saga musical que explora diferentes etapas de um relacionamento. Antes divido em três EPs, agora o disco oferece canções inéditas, além do clipe de “Coladin”. A produção é de Tó Brandileone.

O registro audiovisual entrega todo o humor e irreverência vista em trabalhos anteriores do grupo. Há uma adição especial dos vovôs TikTokers que entram na onda e se divertem ao lado dos músicos. Dá uma olhada:

Na data de lançamento, o Papelpop conversou com Deco Martins, Conrado Banks e Julinho Pettermann, integrantes do grupo paulista. Tito Caviglia, guitarrista, não pode participar da entrevista.

Durante o papo, os músicos contaram detalhes sobre o processo de composição das faixas que integram o projeto, abordaram a importância dos elementos visuais da capa, contaram como se sentem em cantar sobre amor no momento que vivemos hoje e ainda discutiram sobre como o disco estabelece conexões entre todas as suas camadas.

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Papelpop: O amor é o grande mote para todas as canções de “Início, Meio e Fim”. Sendo uma banda composta por quatro pessoas, como foi encontrar essa visão compartilhada para falar de um assunto tão complexo e, às vezes, pessoal demais?

Deco: Para entender bem sobre esse assunto, pra entrar muito bem na pesquisa, obviamente estava cada um num relacionamento e numa fase diferente. Um estava no início, o outro estava terminando e o outro estava no meio. A gente é muito amigo, compartilhamos bastante as coisas um com o outro, nos damos conselhos. Acho que esse álbum vem muito disso, sabe? É um álbum muito verdadeiro, que a gente fez baseado em muitas conversas nossas, sobre sentimentos, o amor em geral. E também, não só entre nós. Também com amigos. Às vezes um amigo seu desabafa sobre o amor e aí, de algum jeito, a gente acaba captando isso e colocando em alguma canção. Acredito que o IMF (“Início, Meio e Fim”) é sobre as verdades que a enxergamos no amor. E essas três fases acabam englobando esse sentimento.

Papelpop: Para vocês, o que significa cantar sobre amor e relacionamentos nos tempos de hoje?

Julinho: Cara, eu acho que já é uma forma de protesto. Uma vez perguntaram pra gente “vocês não tem música de protesto?’ Temos sim, cara. A gente fala de amor em tempos de ódio. É um lance que queremos: propagar a alegria. A mensagem do Hotelo é muito disso. Gostamos de ver as pessoas saírem dos nossos shows alegres, felizes, com uma energia boa. Temos músicas sobre diferentes temas, mas o amor é o que todo mundo deveria ter no coração, deveria passar pra frente. Acho que seria um mundo melhor.

Deco: Acho que esse álbum é bem um respiro. Espero que ele ajude. É um álbum de conselhos em relação a essas três fases. No início, aquela coisa da ansiedade, encontrar a pessoa amada, contar as horas e ficar nervoso. A primeira vez que você fala “eu te amo”. Que esse álbum ajude nesse início de relação, quando dá aquele nervoso na barriga. No meio também, quando já está aquele sentimento de saber a pessoa de cor, de ser tudo muito lindo, de ter uma transparência muito grande na conversa e também das discussões de relacionamento, que não tem como, né? Sempre acaba existindo. Então, que ele ajude essas pessoas que estão no meio do relacionamento. E no fim, não tem jeito mesmo, é aquela tristeza, né? A gente fez questão das duas primeiras músicas do fim serem um pouco mais pra fossa. “Entenda o fim, respire o fim, sabe? Pense sobre ele, pense sobre ele do seu jeito, como você achar melhor”. A música que vem depois é chamada “Não Preciso de Ninguém”. Ela fala “não preciso de ninguém, se eu tenho a mim, tá tudo bem”. Acho que a mensagem é bem essa, do amor próprio também. Então, que essa fase do fim ajude as pessoas a encontrarem a sua essência, a sua verdade.

Conrado: É muito importante num trabalho musical e, principalmente, quando a gente fala de amor, gerar identificação. Eu acho que a identificação cria uma conexão muito forte com o ouvinte. E, realmente, tem sempre alguém que está passando por algum momento desses. Cantar sobre amor nos tempos de hoje é trazer mensagens que, como o Deco e o Julinho falaram, possam te tocar. É uma parada muito especial e eu acho que é a grande missão do nosso trabalho. Acredito que o ponto é essa identificação, é trazer o que você esteja sentindo ou esteja passando e, de alguma forma, que esse som faça a diferença no fim do dia pra você.

 

Papelpop: A narrativa que vocês criam é sequencial como já diz o nome do disco. Qual foi o mote para criar essa obra que se expressa dessa maneira? Quem chegou com esta ideia?

Deco: Lançamos em 2018 um álbum chamado “Mapa Astral”, que tem uma música para cada signo e várias participações. Percebemos que a galera reagiu muito bem a esse disco. Acho que a coisa do conceito em si foi muito fácil da galera entender. Talvez isso já tenha sido um começo. Quando a gente foi lançar esse álbum, ficamos com isso na cabeça. Tínhamos várias músicas de amor e tal. Daí um dia eu tive essa pira de falar “podia ter um início, meio e fim, com quatro músicas para cada fase do relacionamento”. Dei a ideia e a galera pirou. Fomos criando mais músicas em cima disso e pegando algumas antigas. Tem “Por um triz” que eu escrevi com o Julinho, que na real era uma música que, para nós, falava sobre morte. Eu escrevi para a minha tia e ele fez pensando na avó dele. Quando estávamos juntando o repertório do CD, a gente percebeu que essa música entrava muito bem. É como se fosse a morte do relacionamento, ainda tem esperança dentro de você. É sempre muito bom lançar um álbum com conceito porque a galera acaba se identificando bastante, entendendo muito bem a estética do projeto.

Conrado: É uma parada que a gente gosta, de ter um conceito, de ter uma história. Como o Deco falou, fizemos “Mapa Astral” já pensando nisso. Gostamos tanto de fazer que pensamos: “Vamos fazer outro!”. Além de ter funcionado, acredito que grande parte do que deu certo foi porque signo é um assunto que está sempre em pauta e gera muita muito engajamento. A galera gostou! A gente é desse rolê de falar “olha o álbum que os caras lançaram, tem várias referências”. Tipo “The Dark Side of the Moon” que é um negócio mega conceitual. É uma coisa que trazemos nas nossas bases, ter acompanhado trabalhos assim e querer contar essa história. Relacionamento também é uma coisa atemporal. Acho que a escolha do tema para esse álbum é uma coisa que você vai ouvir daqui a muitos anos e ainda vai fazer sentido.

Foto: Lana Pinho

Foto: Lana Pinho

Papelpop: Ainda sobre a narrativa, o projeto foi dividido em três EPs antes do lançamento completo. As capas refletem o início, meio e fim de um dia, além de trazer o coração e a montanha-russa. Como foi criar essa comunicação visual e encontrar a capa final nesses termos? Vocês atuaram de que forma ao lado da ilustradora Tauanna Maia?

Deco: Sim, trabalhamos com a Tauana, minha namorada. No começo da pandemia ela estava aqui em casa. Ela é super da arte. Estávamos na pira de fazer a capa do álbum e ela basicamente fez uma terapia de casal com a gente. Botou cada um de canto para conversar e foi pegando as ideias. Assim, encontramos referências que os quatro gostavam nesse direcionamento. Ela desenhou essa primeira capa que a gente lançou hoje, a capa final do álbum. Inicialmente, íamos lançar o álbum inteiro. Depois, com a Sony veio essa ideia de dividir o disco em EPs, até pra ficar mais fácil da galera entender cada fase do relacionamento. Conversamos com ela para fazer mais três capas. A do “Início” tem a montanha russa, começa essa coisa dos altos e baixos. “Nossa, será que essa pessoa gosta de mim? Será que não?”. Depois entra o coração no “Meio”. “Eu já tô muito apaixonado”. Já estamos no meio do relacionamento aqui. Já no “Fim” o casal aparece vendo tudo isso que se passou. A capa final coloca todos esses elementos juntos.

Conrado: Foi até mais fácil porque fizemos o processo inverso, né? A gente começou pela capa final, como o Deco disse. Depois para desmembrar isso foi mais tranquilo porque demoramos até chegar nessa primeira capa. Foram vários rascunhos. Queríamos colocar todos esses simbolismos mesmo. É muito massa saber que isso que pensamos, que quisemos representar, também tá tocando as pessoas. Foi um trabalho de arte 360. A gente quis que o conceito do álbum, composições, dinâmica de harmonia, ritmo, visual e a capa conversassem entre si.

Papelpop: O disco tem pop, reggae, MPB, lo-fi, entre outros gêneros. Ao lado de Tó Brandileone, como foi realizar as escolhas melódicas do disco?

Julinho: Acho que esses estilos que englobam o álbum são aqueles que a gente já pira em trazer para o nosso som. Somos bem ecléticos, curtimos reggae, ska, MPB e essa nova MPB da galera que está chegando junto com a gente. Então, foi bem natural trazer estilos diferentes. A gente gosta bastante de fazer isso e com certeza vai rolar nos próximos álbuns. O Tó é uma figura emblemática. Ele é um cara super foda. Tocava no Cinco a Seco quando a banda ainda existia. É um cara que trouxe bastante coisa pro nosso som, acrescentou bastante porque toca muito e compõe bem também. Então, ele deu uma refinada no nosso som, algo fundamental para esse disco se tornar o que se tornou.

Conrado:  Ele também ajudou a gente a escolher as músicas para o álbum. Tínhamos feito uma seleção de mais ou menos dezoito músicas. Junto com ele, escolhemos as que faziam mais sentido. Então, o dedo dele está muito presente, além dos arranjos e da produção no modo geral. Ele foi, realmente, uma peça essencial. 

Deco: A gente também fez questão do início ser essa muito astral, ser muito pra cima. Acho que essa talvez seja a raiz do Hotelo, bem suingue, com bastante reggae. O meio já é um pouquinho mais denso. Isso começa na parte de instrumentos.

Conrado: Exato. Além desse lance de melodias e arranjos, a gente quis, realmente, trazer o clima da música. Quando era super alegre, super pra cima, usamos tons maiores. Entra no meio, já começam a entrar músicas de tom menor, aí já tem umas coisas mais malucas, mais uso de tambor. No fim tem a parte da fossa e a parte feliz, que fizemos questão de trazer também, da mensagem de superação. Além disso, as composições também evoluem muito. No início, as composições são relativamente mais simples . Elas vão ganhando profundidade conforme você vai passando pelas fases do relacionamento. Acho que é natural isso também. O sentimento vai ficando mais profundo. Então, a gente quis trazer isso embutido nas composições.

Papelpop: Vocês lançaram o clipe de “Coladin” com os vovôs TikTokers em conjunto do álbum. Como foi feito o convite a eles e a construção daquela estética?

Julinho: Trabalhamos com um casal jovem no clipe de “Maior Que Nós”. Refletindo o CD todo, pensamos nessa ideia de que não existe idade pra amar. Portanto, queríamos muito trazer um casal da melhor idade pra esse clipe. Queríamos que fossem atores. Em determinado dia aqui em casa, a gente trocando uma ideia, vendo o TikTok, vimos os vovôs e deu um estalo. “Seria muito legal chamar eles! Os dois têm um astral bem massa e a música também é pra cima. Pode dar a liga isso!”, pensamos juntos. Conversamos com a Sony e todo mundo gostou da ideia. Chamamos e eles aceitaram o convite. Ficamos muito felizes com isso! O clipe prova esse astral. A gente quis trazer uma referência dos anos 1990 também, das bandas que gostamos muito. E os Vovôs TikTokers são uns fofos, né? Não poderíamos ter uma participação melhor que essa. Setenta e cinco anos juntos. São 68 anos casados e sete de namoro.

Foto: Lana Pinho

Foto: Lana Pinho

Papelpop: Este é o terceiro álbum de vocês e, curiosamente, há também três elementos que compõem a ideia do disco. Desde o primeiro lançamento, em 2015, como vocês chegam neste momento tendo a premissa inicial de “distribuir sorrisos, cantar felicidade e promover o amor”?

Julinho: A mensagem é a mesma até hoje e não vai mudar, por mais que a gente traga temas diferentes. O amor, a alegria, isso compõe o Hotelo. Esse tempo todo, a gente teve uma evolução pessoal, como banda e na nossa amizade. Aprendemos muito até chegar a esse disco e acho que isso faz nosso som ficar mais coeso, mais interessante para as pessoas que escutam. Temos muito orgulho da nossa trajetória. O primeiro disco foi gravado em casa, o “Mapa Astral” também. Não tínhamos nem estúdio. Hoje em dia nós temos um estúdio aqui para ensaiar e gravar algumas coisas. Então, percebemos essa evolução. Acho que o ouvinte também percebe. Estamos num momento muito bom da banda, que a gente tá unido demais, pensando no nosso futuro, pensando sempre em conjunto, se apoiando nas decisões. Discute quando tem que discutir e nos resolvemos. A Sony chegou para somar muito. Ficamos muito felizes quando eles apareceram! A gente sentiu que era isso que a precisávamos pra nossa carreira naquele momento. Estamos na melhor fase, querendo voar.

 

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Ouça o disco nas plataformas digitais:

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