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Poema musicado de Fernanda Young resgata parceria inédita com produtor de música eletrônica

Se estivesse viva, Fernanda Young completaria neste sábado, 1º de maio, 51 anos. Vencedora do Prêmio Jabuti e dona de uma obra marcada por seu humor sagaz e personagens complexos, assinou de romances a séries de TV. Partiu em 2019, em meio ao prenúncio da cafonice e da asfixia generalizadas que afogam o Brasil.

Íntima das palavras, a escritora, roteirista e apresentadora não se intimidou quando, ainda nos anos 1990, recebeu um convite para recitar poesias em um disco do publicitário e músico Jarbas Agnelli.

Hoje atendendo pelo pseudônimo Furio, há 20 anos ele encabeçava ao lado de Waldo Denuzzo o duo AD, projeto pioneiro de música eletrônica que foi trilha sonora de desfiles de moda e figura carimbada na programação da MTV. Seu álbum de estreia, autointitulado, vendeu cerca de 6 mil cópias e trouxe duas faixas experimentais conduzidas por Young.

“Não lembro bem quem fez o convite, mas em 1999 eu tava acabando o disco, Fernanda tinha escrito um livro”, lembra Furio. “Ela apareceu com o livro embaixo do braço no meu estúdio e gravou algumas passagens. Fizemos duas músicas, ‘Piscina’ e ‘Plástico'”.

Agora, ele lança um novo poema recitado pela amiga. “Foge-Me Ao Controle” é uma gravação autoral feita pelo companheiro da escritora, o também roteirista Alexandre Machado. De curta duração e um tanto sinestésico, o texto se debruça sobre a visão mezzo hipnótica de meias coloridas em frascos de vidro – um tentativa curiosa de entrelaçar a arte às emoções humanas.

O processo criativo teve início a partir do desejo de prestar homenagem. “Como já tínhamos gravado outras coisas que acabaram não saindo à época, começamos a fazer o novo projeto e quisemos revisitar aquilo, trazer algo inédito”, explica Furio.

“Pedi autorização ao Alexandre, que sou mega fã e conheço desde os tempos em que ele era redator da agência de publicidade W Brasil, e ele adorou. Na mesma hora recebi o texto dessa música, uma gravação que eles tinham feito em casa”.

Lançado com exclusividade pelo Papelpop, o clipe traz uma seleção de fotos feita pela cartunista Estela May, filha do casal Young Machado. Sobrepostas, estão ilustrações que dialogam com o percurso do texto.

Entre as memórias mais afetivas que tem de Young, Furio destaca as vezes em que dividiram o palco. “Tocamos ao vivo algumas vezes. Fernanda ia junto comigo e Waldo, levava o livro, ia pro microfone e ficava lá lendo enquanto a gente tocava”, diverte-se. “Ela adorava a se considerava parte da banda. Teve uma época em que ela até comprou uma guitarra e pra entrar oficialmente na banda, mas não deu muito certo”.

A música, aliás, não era uma atividade estranha à autora. Na virada do milênio, ela chegou a compor para duas grandes musas do rock brasileiro: a Marina Lima, madrinha da filha Cecília Madonna, deu de presente “Sissi” e “Estou Assim”. Já Rita Lee, ex-colega de Saia Justa, a convidou para participar da criação de “Hino dos Malucos”.

Também colaborador de Fausto Fawcett, poeta parceiro de Fernanda Abreu, Furio diz não descartar a possibilidade de voltar a trabalhar com conteúdos póstumos que promovam esse casamento entre esferas criativas. “Sempre gostei da palavra falada com a música, de um jeito que não é cantado e não é rap. É pura poesia”.

Furio

Pelo selo Cri Du Chat, gerido pela Universal Music Brasil, Furio já lançou outros quatro singles, todos trabalhos que buscam mergulhar o ouvinte em questionamentos e filosofias amparados pelo uso de equipamentos eletrônicos considerados “vintage”.

Como diretor de videoclipes, assinou além dos projetos relacionados ao AD “Made in Japan”, da banda Pato Fu, “Instinto Coletivo”, d’O Rappa, e “Todo Universo”, de Lulu Santos.

Tendo iniciado a própria carreira ainda nos anos 1980 como ilustrador e diretor de arte, ele também é autor do curta “Birds on the Wires”, exibido no museu Solomon R. Guggenheim, de Nova York. “Foge-Me ao Controle” estará disponível, em breve, nas plataformas de streaming.

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