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Bastille fala sobre novos singles: “Não quis que parecesse que estivéssemos tirando proveito da pandemia”

Tivemos a chance de bater um papo incrível com o Dan Smith, vocalista da banda britânica Bastille, que provou entender muito sobre a visão que tem em relação a própria música e o futuro da banda.

Dan contou tudo sobre o processo criativo do desenvolvimento do novo single “survivin'” que, para a nossa surpresa, não foi escrito durante a pandemia!  O vocalista não hesitou em nos explicar sobre como foi o processo de composição e a decisão da data do lançamento da faixa que tem a clássica vibe de crise existencial que a banda sempre traduz tão bem em suas músicas – e que se encaixa tão bem no momento em que estamos vivendo. Outra coisa que o Dan fez questão em conversar sobre? O videoclipe do single (que está mais para um curta de cinema de tão lindo)! Vem ver:

 

Outra faixa do Bastille também lançada recentemente foi “What You Gonna Do?”, que surpreende com o rock e batidas mais agressivas do que estamos acostumados vindo da banda, o que consolida muito bem a variedade de sons que esta é capaz de produzir. O clipe, que também é uma animação, foi só mais uma oportunidade para o Dan compartilhar conosco o seu amor pela sétima arte.

A entrevista – que poderia ter durado horas de tanto que o Dan ama falar sobre o que faz –, também trás algumas novidades sobre lançamentos da banda ainda esse ano, a possibilidade de explorar um lado country, e mais! Confira a entrevista na íntegra:

 

PAPELPOP: Eu ia começar a entrevista dizendo “parabéns por “survivin”” mas isso ia soar estranho porque parece que eu estou te dando parabéns por estar vivo! 

Dan: [risos] Realmente! 

Esta faixa traz um som mais atual, repleto de ineditismos em comparação às músicas anteriores… mesmo assim, quando a ouvimos, não há dúvida de que estamos diante de uma música da Bastille. A mesma acontece em “What You Gonna Do”… Tendo em vista essa mudança de sons, o que vocês mais desejavam que ficasse em evidência?

Boa pergunta… Bem, eu acho que este ano para nós, este semestre principalmente, foi apenas para tentar e experimentar coisas novas. Foi tudo sobre tentar novos sons, ideias diferentes que não tínhamos tentado antes. Tem sido muito bom colaborar um pouco mais com amigos e outros músicos, de uma forma que fizemos menos nos álbuns anteriores. Nosso processo desde o início sempre foi eu escrever as músicas com os caras da banda e depois produzi-las com o Mark Crew. Acho que fizemos isso em todos os nossos três álbuns, então achei que seria bom tirar a pressão e trazer outras pessoas para o processo e ver o que acontece! Tudo isso veio da gente querer surpreender as pessoas, sabe? Acho que depois de três álbuns, só queríamos manter as coisas interessantes e mudar o processo, experimentar um pouco mais! E toda música que sair de agora em diante, será surpreendente – as pessoas vão ficar tipo “Oh! De quem é essa música?” e aí a minha voz irritante entra…

[Risos] O videoclipe de “survivin” funciona muito bem com a música e, realmente, transmite uma experiência completa. Você não parece ser o maior fã de audiovisual… Por isso o videoclipe é uma animação ou você apenas teve sorte no processo criativo? Como foi isso?

Bem, eu sempre quis trabalhar com animação para um de nossos clipes! Para mim, os vídeos que fazemos são uma oportunidade muito divertida de fazer pequenos filmes e sou um grande fã de cinema! Então, para mim, também foi uma grande chance de trabalhar com novos diretores e criar um pequeno mundo em torno de nossas músicas. Acho que com a ideia de “survivin'” ser um pouco mais sobre sonhar e imaginar que você está em outro lugar, parecia que realmente se encaixava com animação e este ano, sendo o ano que tem sido, nos deu tempo fazer isso. Porque muitas vezes com videoclipes – essa conversa está prestes a ficar muito chato -, temos apenas algumas semanas ou um mês para transformá-lo em um produto final, mas com este ano e toda a sua loucura e merda, fomos capazes de ter menos pressão com essa data de lançamento. Então, fomos capazes de fazer nossa visão com a animação acontecer! Nós nos encontramos ano passado com o animador, Rezo, que é do Irã mas que atualmente vive em Londres, e ele é simplesmente incrível! Demos a ele o conceito e ele teve tempo para realmente trabalhar nisso e aproveitar o processo, porque realmente leva séculos para ser feito! Como sou um grande fã de animação, foi muito divertido experimentar diferentes estilos de animação e tentar criar esse tipo de mundo de sonho e de fuga que a música, eu espero, traz de alguma forma. E na letra da música há um referência ao filme “Vanilla Sky”, que tem uma cena muito famosa na Times Square onde está tudo completamente vazio, e eu acho que este ano para mim, enquanto estou dando um passeio por Londres e vejo tudo como aquela cena de abertura de Vanilla Sky é muito surreal, então é isso que o vídeo tenta capturar também. E estou muito feliz que você gostou do vídeo! Para mim, uma vez que a música está pronta, eu já começo a pensar em como podemos apresentá-la e dar às pessoas de uma forma que pareça diferente e emocionante… Quando o vídeo acrescenta algo, dá mais dimensão à música, é muito gratificante…

A propósito… as canções da Bastille têm essa coisa de sempre provocar algum tipo de pensamento, de reflexão que normalmente partem da tristeza e de situações angustiantes, embora tenham uma melodia alegre e divertida. É um contraste… Como vocês mantém esse equilíbrio?

Acho que sempre gosto de escrever sobre os lados mais sombrios e complicados da vida, e talvez isso venha de ser um grande fã de histórias da música, literatura, cinema e arte de outras pessoas… Acho que todas as narrativas que nós da banda gostamos, nos levam a explorar os lados mais complicados da vida. Muitas das músicas que eu amo são muito tristes, mas a música pode ser uma fuga maravilhosa e realmente inspiradora, e eu sempre fui fascinado por essa linha tênue entre euforia e o desespero absoluto do outro lado. Eu não sei! Acho que muitas de nossas músicas, incluindo essa, exploram a ideia de que as pessoas estão se agarrando a algum tipo de otimismo. Com “survivin'”, eu só queria transmitir aquela sensação de que, onde quer que você esteja, às vezes parece um verdadeiro trunfo sobreviver àquele dia – é como se você simplesmente se arrastasse de um dia para o outro, e o otimismo a que nos agarramos ser o que te faz sair da cama pra passar o dia procurando por seja lá o que for que possa te fazer feliz. Mas sim, a tristeza é definitivamente algo que está em muitas de nossas músicas! Acho muito difícil escrever uma música puramente feliz! Mesmo quando estou pronto para escrever canções alegres, ainda há essa estranheza, algum tipo de escuridão lá. Tipo, no nosso último álbum “Doom Days”, quando começamos a fazê-lo, queríamos que fosse um álbum totalmente escapista e otimista, quase como um club disco que fosse sobre se isolar de toda a escuridão e ansiedade do mundo, mas mesmo assim, ele acabou sendo chamado de “dias da desgraça”, e todas as inseguranças e ansiedades voltaram. Então eu acho que não está em nosso DNA ser completamente felizes… Mas com essa música eu realmente queria que fosse honesta, e a maneira mais fácil de fazer isso é ser bem direto! Tem aquela parte da música que funciona como um mantra, a parte em que eu canto “Eu vou ficar bem, acho que vou ficar bem”? Isso é apenas eu escrevendo sobre como me sinto na maior parte do tempo, e quando eu mostrei a música para alguns dos meus amigos, eles pareciam gostar muito da maneira como eu consegui traduzir esse sentimento, o que é muito legal…

E a “survivin'” foi escrita antes mesmo deste ano acontecer, certo?

Sim! Eu a compus no final do ano passado e começamos a trabalhar nela um pouco antes do lockdown começar no Reino Unido. A letra veio de algo em que eu estava pensando no final do ano passado e aí quando o mundo se inverteu completamente e ficou de cabeça para baixo, fiquei nervoso em lançar essa música porque não queria que parecesse que estivéssemos tirando proveito da situação em que estamos vivendo atualmente com a pandemia ou algo parecido, mas fui encorajado a lançá-la pelos caras da banda e por muitos de nossos amigos e pessoas com quem trabalhamos. Eles me disseram para parar de pensar demais nas coisas! [risos] E eu acho que essa música foi catártica para eles, então acho que é por isso que eles me disseram para superar a mim mesmo e colocá-la para fora. Íamos lançá-la no verão, mas, como eu disse, o processo de animação do clipe leva séculos! 

E podemos esperar mais lançamentos “espontâneos” este ano?

Ah sim! Com certeza!

Sobre “What You Gonna Do?”. As duas músicas são muito diferentes, musicalmente, o que é uma boa surpresa e mais uma prova da versatilidade de sons que vocês conseguem fazer muito bem. Ainda existe algum gênero musical que vocês gostariam de experimentar, mas que ainda não tiveram a chance?

Hmmm, eu acho que a nossa versatilidade vem de nós sermos fãs de tantos gêneros musicais diferentes. Sempre fizemos mixtapes e elas sempre foram um espaço divertido para experimentar muitas coisas que as pessoas provavelmente não achariam aceitável que tentássemos. Mas foi divertido colaborar em algumas faixas de hip-hop e acho que tivemos muita sorte! Tipo, nós tivemos a chance de fazer shows orquestrados, então quase fizemos música erudita no limite! Também fizemos muita música eletrônica, o single “What You Gonna Do?” nos permitiu tentar o rock… Eu acho que os projetos que estamos testando a partir de agora nos permitem explorar diferentes tipos de épocas e sensações que não acho que tenhamos tocado antes, então isso é emocionante para nós! Que tipo de música você acha que devemos tentar?

Eu estava pensando sobre isso enquanto fazia essa pergunta! Eu acho que gostaria de ver vocês tentando fazer aquele tipo música country mais triste e suave, sabe?

Nossa! Sim!

Algo com uma vibe Kacey Musgraves, talvez? 

Música country triste! Ok! Eu gosto disso! Eu nunca explorei isso antes, mas eu tenho uma banda com meu amigo Ralph que se chama Annie Oakley Hanging, e o álbum inteiro é apenas uma longa história! É um álbum mais pop country, mas existem alguns elementos que talvez tenham influência sobre o que você disse… Mas eu amei a ideia! Vou pensar nisso!

Todos os álbuns do Bastille têm um enredo, um conceito específico para eles. Não sou louca de perguntar o que vocês estão buscando no novo álbum porque isso tira toda a graça, mas qual é a importância de se criar uma narrativa estruturada, em um álbum, para você?

Para mim, criativamente, ter uma estrutura em torno de um álbum é realmente útil – particularmente se você deseja explorar diferentes tipos de música no álbum. Portanto, ter um pouco dessa arquitetura na sua cabeça não nos restringe em nada, é na verdade muito útil porque, quando estamos no estúdio gravando um álbum, muitas ideias surgem ao vivo e temos muitas músicas, então é realmente importante saber quais são os parâmetros e certificar-se de que tudo faz sentido dentro desse mundo, mesmo que as faixas soam completamente diferentes musicalmente. E narrativamente eu acho que é muito útil porque então sabemos os pontos que estamos tentando fazer com o álbum, porque quando estou escrevendo um álbum, farei isso em um caminho muito prolixo, sempre que estou inseguro sobre uma música, escrevo umas 10, 20 versões dela e tento organizar tudo o que estou tentando dizer – e obviamente você não pode dizer tudo em apenas uma faixa. Portanto, a narrativa é importante para tentar ser o mais econômico possível, para dizer tudo o que você quer com o mínimo de palavras possível, e isso é algo que vem muito fácil e às vezes não. Eu sinto que sem uma narrativa seria como um álbum se não houvesse um fio conectando-o! Tudo seria apenas uma coleção de canções que não fazem sentido em um todo! E para mim, em um nível pessoal, as canções estão todas unidas por uma parte da minha vida, porque passo a maior parte da meu tempo fazendo isso! Os álbuns que lançamos, essas músicas que lançamos, são como grandes pedaços do nosso tempo em nossas vidas… Então eu acho que essas músicas que lançamos não são realmente sobre o álbum, tratam-se apenas de músicas que nós digam algo interessante e de uma forma que pareça espontânea!

Dan, essa é minha última pergunta e você precisa respondê-la o mais rápido possível porque estamos ficando sem tempo, ok? Você disse que é um entusiasta do cinema, então se pudesse escolher um filme que já foi lançado ou não, para fazer parte da trilha sonora, qual filme você escolheria e por quê?

Oh, mas essa é uma pergunta tão difícil! Oh Deus! Não tenho certeza se gostaria de ser incluído nele, mas para mim a trilha sonora de Vanilla Sky é incrível. Ela me apresentou a muitas músicas e bandas que eu amo. Acho que é perfeito quando uma trilha sonora consegue reunir artistas e músicas de vários gêneros diferentes! Como em Romeu e Julieta do Baz Luhrmann! Adoro quando te pegam de surpresa! Mas ah … que filme eu gostaria de fazer parte de sua trilha sonora… Essa é uma pergunta impossível!

Deixei a pior pergunta para o final! Eu sinto muito!

Ah não! Não! É uma pergunta tão boa! Nós nos divertimos escrevendo uma música nova para o filme “Drive”! Há alguns anos, vários artistas foram selecionados para escolher basicamente algumas cenas do filme e criar uma música original a partir delas. E daí saiu a música “Driver”, que é uma das nossas músicas mais antigas que eu adoro…

É uma música tão boa!

Oh, muito obrigado! Realmente é um sonho meu poder fazer uma trilha sonora um dia, mas você sabe, parte deste projeto suspenso em que estamos trabalhando agora é quase como criar um filme e uma trilha sonora! Mas ah… ainda não respondi sua pergunta! Estou naquele estado em que de repente não consigo pensar em nenhum filme! Você fica tipo “diga-me um filme” e eu fico literalmente tipo “mas eu não conheço nenhum” [risos]! Eu adoro a trilha sonora de The Graduate de Simon & Garfunkel, também adoro quando eles dão a trilha sonora inteira para uma pessoa se responsabilizar! A trilha sonora do Pantera Negra também foi incrível! Como todas aquelas músicas foram selecionadas, e o que Kendrick fez com elas foi simplesmente incrível… E eu amo o que Labrinth fez em Euphoria! Quando eles dão a um artista a permissão para fazer a trilha sonora inteira é muito bom porque podemos ver o artista tendo que ampliar seu alcance para se encaixar na história do melhor jeito possível… Mas é… Isso é tudo que tenho para você! Espero que essa resposta tenha sido útil [risos]!

***

Ouça mais da Bastille nas plataformas.

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