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música

MC WM mescla funk e pagode baiano em novo single; leia nossas impressões

MC WM é uma das figuras mais emblemáticas do funk paulista. Nascido William Almeida de Araújo, o cantor deu início a uma celebrada carreira no movimento nos primeiros anos da década de 2000, conciliando as atividades musicais com a carreira de barbeiro.

Hoje, 17 anos depois, ele aprimora as técnicas de pesquisa sonora e entende a cena como ninguém. O melhor exemplo de como seus ouvidos são atentos está nas posições alcançadas por singles como “Fuleragem”, “Senta Braba” e “Opa Opa”, esta última uma parceria com Jerry Smith.

No próximo dia 26, sexta-feira, ele dá mais um passo com o lançamento de “Explosão”, colaboração agitada com Jhowzinho & Kadinho que chega com a promessa ambiciosa de fazer o público dançar. De fato, consegue. A faixa, marcada por batidas frenéticas de percussão, foi feita pra ganhar as pistas de dança (ainda que estas sejam, temporariamente, ambientadas na sala de casa).

Trata-se de uma mistura de gêneros musicais tipicamente brasileiros, introduzida por beats eletrônicos. A melodia, construída em camadas, segue em um crescendo que desemboca no pagode baiano. A esperteza do funk, em letra e som, convida o ouvinte a se deixar envolver por um suingue que neste momento, em meio a uma densa carga energética, tem poder de cura.

Por telefone, WM atendeu o Papelpop para uma breve entrevista. Além de comentar o lançamento, que entrega ainda um videoclipe, ele falou sobre a importância do funk para a juventude paulista e o constante interesse do público gringo pelo ritmo, que em 2019 se tornou o mais popular em países da Europa e Estados Unidos.

Papelpop: ouvi seu novo single e fica claro que a intenção é fazer as pessoas se jogarem em casa. Mais do que isso, a intenção será facilmente alcançada… (risos)

MC WM: (risos) Sim. Essa música não estava nos planos, não era pra acontecer dessa forma. Veio a princípio do Jhowzinho e do Kadinho, que me apresentaram e eu logo de cara achei bacana. Tinha tempo que não fazíamos um feat e fomos animados pro estúdio, junto ao DJ Malokinha. Ele começou a produzir lá com um estilo pagodão meio baiano e gostamos logo de cara. Misturamos ao funk e resolvemos compor mais um trecho da letra. Gosto de fazer coisas diferentes, todos esperam ritmos como o bregafunk que já tá no mercado… ousamos um pouco.

Vocês finalizaram antes ou depois da pandemia? Experimentaram esse processo de fazer as coisas à distância?

Parcialmente, porque gravamos antes da pandemia e finalizamos durante. Foi curioso.

É uma faixa que flerta com a música eletrônica, mas que também é bem brasileira, que mescla pagode com funk. Como funciona o seu trabalho de pesquisa sonora? O que você gosta de escutar?

Eu digo que o funk não é um gênero, ele é amplo pra se encaixar a diversos modos. Dá pra fazer funk realidade, funk ostentação, funk putaria, brega funk, melody, 150 bpm. É parte da cultura das pessoas que tem menos recursos musicais de poder mostrar sua arte e seu trabalho. Eu gosto desse processo, os latinos fazem algo bem legal com o reggaeton e seria interessante que fizéssemos também com os gêneros que possuímos. O sertanejo é que não é tão aberto assim, por ser um pouco mais padronizado, mas nós conseguimos. É legal explorar isso. Eu gosto de diferenciar, ouço de tudo. De MPB ao Rock, forró, brega… Se a música é boa, coloco pra tocar. Todos aqui em casa são assim.

Uma informação me chamou bastante a atenção, foi o fato de que no clipe de “Explosão” os figurinos conversam com as suas origens. O que isso quer dizer?

Quando comecei no funk, eu não comecei vendo o lado pop. Vim de periferia e fazia funk como todo garoto de periferia, falando bobagens e tal. Em 2017, quando me destaquei, cantando um funk mais favela, sem palavrão, um funk bem fluxo de rua, eu me destaquei e usava um estilo que me cobram. Dizem ‘Ah, era legal’. Mas não mudei por obrigação. Você vai conhecendo novas coisas… Mas nesse clipe, decidi usar as roupas que usaria em 2017, 2016. E quisemos destacar os figurinos de antes, dessa primeira fase. Vai ser meio nostálgico, com doses de origem. Tá bem “chavoso” (risos).

O lançamento acontece numa live, no próximo dia 26 de junho, e a internet talvez a maior aliada do artista hoje em meio à pandemia. Quais os desafios de se trabalhar assim, de fazer um lançamento nessas circunstâncias?

O clipe será lançado em uma live, pensei em fazer isso pra promover a música. A música tá se dividindo na internet com várias e várias coisas, por mais que seja um maior portal de divulgação, temos aí também vários outros seguimentos como lojas online, blogueiros… Esse formato é bem legal, de se manter na prateleira do mercado e desempenhar, mostrar um bom show, pra quando voltarmos ao normal isso nos ajudar. O ramo artístico foi muito prejudicado, os shows só devem voltar me meados de 2021 e temos que procurar meios de se conectar com as mídias sociais.

A indústria da música foi profundamente impactada pela pandemia, você tinha shows agendados até o mês de dezembro de 2020. Como você espera encontrar o mundo pós-pandemia?

O mundo não vai ser o mesmo. Por mais que digam “está liberado”, ninguém quer estar em um lugar que tenha uma grande circulação de pessoas. Tenho medo, acho que voltará aos poucos, sem casa cheia… Por mais que se queira sair, é preciso preservar a saúde. A única forma de se resolver é com uma eventual vacina, mas até que isso esteja disponível, haverá uma demora. É preciso ter paciência. Acredito que quando acontecer, as pessoas vão se sentir seguras.

Ainda jovem você começou a pesquisar bases para produção de música na internet. Agora são quase 2 décadas de carreira e feitos consideráveis concretizados ao longo desse período. Olhando pro seu público, mas também pro WM que começou lá atrás, o que o funk representa pra cultura jovem de São Paulo?

O funk é como o Brasil. Está cheio de oportunidades, mas não tem tanta organização quanto necessária. Eu convivi e presenciei pessoas com o caminho todo errado sendo “endireitadas” na música, libertas do tráfico e de questões complicadas que impedem alguém de se manter são e limpo. Mas tem gente que ainda enxerga o gênero como algo ligado a coisas ruins. Se todos colocassem a mão na consciência e enxergassem o funk como música, a realidade seria outra. Temos um alcance enorme, nacional e internacional. Somos o gênero musical mais escutado lá fora. Mas falta recursos, falta a organização que outros tipos de música têm, como é o caso do sertanejo, em que há investimento milionário. É importante ter uma cabeça pensante nisso. Profissionalizar o seguimento, parar de usar o funk como porta voz do crime. Abandonar um pouco as palavras obscenas… porque isso não movimenta a cultura do fluxo, o pancadão… Sempre vou defender a escolha do funk, mas é preciso melhorar, ter uma cabeça pensante.

 

“Explosão”, o novo single de MC WM, chega ao streaming no próximo dia 26.

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