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Colombiano Camilo fala sobre novo álbum, arte de compor e parceria com Shakira

música

Sorrindo, o cantor colombiano Camilo atende a minha solicitação para uma chamada de vídeo. “Oi, Guilherme!”, diz ele, em uma pronuncia quase perfeita. Enquanto me apresento, ele se ajeita à frente de uma parede em que pendem guitarras e porta-retratos. “Estou na casa dos meus sogros, em Miami”, explica. “Estamos apertadinhos, em família, compartilhando nossa casa, muito bem trancados”.

A cidade, de fato, é um reduto da comunidade latina nos Estados Unidos. Por lá já passaram, entre curtas e definitivas estadias, nomes famosos como Gloria Estéfan, Celia Cruz, Thalia e J Balvin. Em contrapartida, o que não é lá uma regularidade nas ruas desses condomínios à beira-mar é a presença de gente caminhando. A pandemia reconfigurou a rotina da cidade.

Camilo, por sua vez, usou o tempo em que esteve trancado em casa para se dedicar à finalização do álbum de estreia, “Por Primera Vez”. O projeto, gravado antes mesmo do início do lockdown, foi lançado em meados de abril. “Tudo nasceu aqui em casa, onde tenho um estúdio. Foi feito à mão, em família”, diz. “Pensando assim, acho engraçado quando dizem que sou um artista, porque na verdade me consigo mais um artesão da palavra e dos sons”.

Além de uma parceria com Pedro Capó, Camilo também entrega neste trabalho uma parceria com a esposa, a atriz Evaluna Montaner. Mas não é só: pensando em expandir o leque de colaborações, ele fez remixes de duas faixas, uma delas com a conterrânea Shakira e outra com espanhol Pablo Alborán. Este último acaba de ganhar um novo clipe.

Artista latino com o maior número de seguidores no TikTok e, pasme, dono de 17 milhões de ouvintes mensais no Spotify, ele tem colhido frutos valiosos que rendem as canções que compõe. Canções estas que grudam no imaginário do espectador como chiclete. Nesta entrevista, fomos além e falamos sobre referências, composições e desafios. Você lê a íntegra abaixo.

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Papelpop: ‘Por Primera Vez’, seu novo álbum, estreou no último dia 17 de abril. Há praticamente dois meses. Foi gravado no seu estúdio pessoal, já com a pandemia trancando todos em casa. Como foi a experiência

Camilo: Uau. Olha, foi uma experiência muito curiosa, diferente do que esperava. Vejo você dizendo que já se passaram quase dois meses e pra mim parece que o tempo está ‘estacionado’. Eu me perco no tempo agora, tudo parece ser muito intenso, parece que foi há um ano, num passado distante. Mas também me vejo agarrado a um amor, porque este é um álbum que amo, que me faz muito feliz, meu trabalho favorito neste momento. É um debut, um trabalho modesto, mas feito com muito amor ao longo deste último ano.

Você assina todas as composições, a maioria delas engenhosas, com rimas milimetricamente casando. Me provoca curiosidade a respeito dessa concepção. Você é do tipo que sonha com as deusas da inspiração e dorme com o bloco de notas ao lado da cama?

Boa pergunta. Eu sempre me vi gastando muito tempo perseguindo a inspiração para poder capturá-la e assim compor canções das quais me orgulhasse. Mas com o tempo percebi que o que acontece é o oposto. Ela, a inspiração, é que te persegue e você tem que se deixar ser alcançado, ficar quietinho, à espreita, esperando. A minha relação com os processos criativos, eu perceberia com o tempo, exigem calma e renúncia àquilo que sou, para que esteja aberto a uma espécie de liberdade de ideias, que entram e saem quando querem. Eu canto porque escrevo, porque quero cantar o que escrevi. Logo, vejo a composição e meu processo artístico como sendo uma coisa só.

Há muito romantismo no seu trabalho, algo que fica bem claro nas circunstâncias em que você gravou o clipe de “Favorito”. Tudo foi feito durante a sua lua de mel com Evaluna Montaner, que é atriz e protagonista deste projeto. Gostaria que comentasse um pouco sobre.

Ah, esta é uma canção muito especial para mim, porque é uma homenagem ao amor que vivo. Me causa até uma certa ilusão pensar que vou ver e escutar esta música daqui a 30 anos e reviver a experiência. Imagino sempre que vou acordar e ver o vídeo ao lado de Evaluna dizendo ‘Amor, você se lembra de quando estávamos na lua de mel, recém-casados, e fizemos isso?’. [risos] É muito interessante pensar que uma música faz parte não só de um fragmento da minha história artística, como também pessoal.

E é sobre o amor que falam muitas das suas canções, entre elas “Tutu”. Foi um sucesso instantâneo em toda a América Latina, chegou até os ouvidos da Shakira e ela quis fazer um remix com você. Como isso aconteceu? Qual foi a sua reação? Confesso que eu, no seu lugar, teria rido. Mas rido de nervoso [risos]. 

[Risos] Para mim foi algo parecido. Veja bem, a Shakira é uma das maiores referências da minha vida, mais até. É uma referência para todos que fazem arte na Colômbia. Sempre que penso na grandeza que tem e no nível de excelência que emprega ao produzir suas canções, o nome dela é o primeiro que me vem à cabeça. Eu não sonhava em cantar com ela porque não acreditava que fosse possível. Era como se brincassem comigo dizendo ‘Você vai jogar no Barcelona’. Acreditava que era uma linha diferente da minha, que estava em um estágio muito avançado das coisas. Eu sentia que ela estava em outro patamar e eu ali, a observando de longe. Um belo dia ela publica o link da faixa dizendo estar obcecada e depois se aproxima me perguntando “Ei, gostei desta música. Vamos fazer um remix?’

Antes desse capítulo triste começar vocês a cantaram juntos, em janeiro, durante a final da Copa Davis de Tênis, em Madrid…

Sim! Você assistiu? Foi um momento inesquecível também ao lado de Pedro Capó, que é um grande amigo. Quase morri de emoção.

Você nasceu no departamento de Córdoba, no norte da Colômbia. Cresceu com a riquíssima cultura do Caribe, em um país que muito valoriza a própria história. Muito se questiona sobre influências dos novos trabalhos, mas quem fez parte da sua formação enquanto artista?

Bom, quando era bem pequenininho todos os meus ídolos eram aqueles que também eram ídolos dos meus pais. Eu nunca escutei canções que eram moda na minha geração, canções infantis ou jovens. Ouvia muito as fitas K7 que eram dos meus pais. Meu primeiro ídolo foi brasileiro, João Gilberto. Mas também gostava muito dos argentinos Atahualpa Yupanqui e Mercedes Sosa. Depois, já crescido, me lembro que o primeiro K7 que tive na vida foi o de ‘Dónde Están Los Ladrones?’, disco clássico da Shakira [risos].

E como tem sido os seus dias de isolamento social? Você está na casa dos seus sogros, em Miami…

Sim, estamos em Miami. Estamos apertadinhos, em família, compartilhando nossa casa, muito bem trancados. Já estamos há mais de 3 meses sem sair, é uma experiência única, rara, porque nunca tinha ficado tanto tempo sem sair porque estritamente não posso. Mas tenho tentado encarar com muitos pensamentos positivos sobre sair disso, como sendo uma oportunidade preciosa de trabalhar o autoconhecimento, os olhares pra dentro de si, um período propício à formação relações mais fortes e, claro, para criar coisas novas também. Tem sido o meu remédio.

Para fechar: estamos vivendo algo único, que não se sabe quando acabará e de que forma impactará, no fim das contas, a indústria musical. As lives tem sido o melhor jeito de criar uma ponte entre os fãs e o artista, mas há quem não curta. Você entra no Instagram às 18h e os stories estão lotados…

Eu ainda vejo isso com bons olhos. A arte está buscando maneiras de ser compartilhada e ela e os artistas, independente de quem sejam, não se acomodam. Há uma série de dificuldades pelas quais estamos passando. Não há outra coisa a se fazer senão seguir criando e mostrar isso ao público, cada um na sua bolha. A arte se move o tempo todo, o que muda agora são os espaços, as avenidas pelas quais vamos conduzir a música até o público. A internet, enquanto “novo meio”, agora é a avenida perfeita para chegar até o outro em qualquer lugar do mundo. Sabe, eu gosto muito das lives, apesar de haver alguns críticos. [risos] Tem momentos que você abre o Instagram e todos estão fazendo isso. Mas é bom ver que tem gente compartilhando momentos reais de intimidade, você sabe exatamente o que essa pessoa está fazendo agora. Conhece novas perspectivas, há uma certa magia. É algo único.

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Ouça “Por Primera Vez” no streaming:

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