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Laerte e Rafael Coutinho falam sobre política, HQs e internet na CCXP 2019

Foi dada a largada e a CCXP 2019 segue a todo vapor! Enquanto lá fora a chuva caía no fim da tarde desta quinta-feira (5), o Auditório Prime, na São Paulo Expo, recebia sob olhares atentos os cartunistas Laerte e Rafael Coutinho. Juntos, pai e filho participaram de um bate-papo sobre a mescla de política e HQs. 

Contando com a participação do público, a dupla protagonizou uma espécie de bate-papo e aproveitou a oportunidade pra falar sobre pontos importantes de sua formação artística. Laerte, por exemplo, comentou sobre seu primeiro contato com o desenho, ainda criança. “Menino é um bicho que potencialmente sabe desenhar muito bem, mas na pré-puberdade eu descobri que o isso era interessante pra mim como forma de expressão. Só aos 21 anos fui pensar nisso como profissão, porque eu pensava em cinema, teatro, música”.

Citando obras como “Fahrenheit 451” e a filmografia de François Truffaut, a cartunista também traçou um paralelo entre o Brasil atual, marcado por ameaças autoritárias, e o período da Ditadura Militar – quando suas obras começaram a ganhar notoriedade. Seu objetivo? Explicar o papel da produção de HQs na promoção de reflexão. 

“Na época parecia quase natural assimilar quadrinhos a despolitização, informação superficial, comercial, entretenimento tolo. Mas a história da produção de HQs no mundo todo mostrou que muitos trabalhos são altamente eficientes no sentido de provocar reflexões”. Para ela, há discussões políticas até mesmo em trabalhos como filmes considerados “de massa”, como “Coringa”, que precisam ser levadas em consideração.

Sobre a possibilidade de uma guinada autoritária por parte do governo é assustadora. “Eu tenho medo, basta ter cu pra ter”.

Ao ser perguntado sobre a importância política dos quadrinhos, Rafael Coutinho disse que sua visão é um tanto divergente da do pai, já que embora compartilhem formatos de criação, suas narrativas tem propósitos e linearidades distintas. “Desenvolvo narrativas longas, intimistas, que resvalam em temas políticos. mas tudo que eu faço parte desse entendimento de que quadrinhos e arte são um ato político. Da mesma forma que não falar de política também é um ato político”. 

Sobre o futuro da arte no Brasil em tempos conturbados, Coutinho disse que a saída está na escuta e na percepção do outro. “Precisamos nos enxergar tridimensionalmente, além de causas”.

Ao falar sobre as redes sociais, mais precisamente sobre memes, Rafael disse que estes são um desdobramento das primeiras charges políticas, surgidas nos anos 1970, à exceção de que estes tem um tempo curto de relevância e existência. “Uns meses depois perdem o sentido. Hoje também elevaram um potencial de disseminação de conteúdo violento. Em segundos viraliza”.

Sobre representatividade nas HQs, o artista explicou que vivemos um momento de mudanças intensas. “É confuso discutir isso no entretenimento porque dependendo do contexto, o Batman vira Jesus e quando a Marvel nos dá o que queremos, sentimos que ela representa o estado. Como público e criadores achamos que as empresas se expressam assim. Mas ao mesmo tempo, isso pode mudar a vida de um jovem da periferia, transforma o pensamento de uma criança, que passa a ter outro paradigma pra lidar. Estamos vendo isso acontecer”. 

A CCXP 2019 acontece entre os dias 05 e 08 de dezembro na São Paulo Expo.

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