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cinema

Nove filmes icônicos para celebrar os 90 anos de Fernanda Montenegro

Viva, Fernanda Montenegro! Ninguém pode ser chamado de ícone com tanta propriedade quanto a grande dama da dramaturgia, que completa nesta quarta-feira (16) noventa fucking anos de idade. Sempre comprometida com a arte, Fernanda tem uma trajetória brilhante e já protagonizou mais de 20 novelas, 30 filmes e pelo menos 60 peças de teatro.

Ela é, sem sombra de dúvida, a atriz mais importante da história, da qual sua vida está profundamente atrelada e registrada no livro “Prólogo, Ato, Epílogo”, lançado em setembro pela Companhia das Letras. Pra celebrar, resolvemos listar nove de seus melhores filmes. A regra é um pra cada década vivida. Aproveite o dia para maratonar, caso não tenha visto algum desses, ou simplesmente se permita rever. Vale a pena cada segundo.

Central do Brasil (1998)

Existe um consenso de que “Central do Brasil” é o maior filme feito na história recente da sétima arte no país. Dirigido por Walter Salles e com atuações de Marília Pêra, Matheus Nachtergaele, Soia Lira e Othon Bastos, a história está centrada nos dramas de Dora, uma professora aposentada que escreve cartas para analfabetos na estação Central do Brasil. Certo dia, ela recebe em sua banquinha Ana e Josué, mãe e filho que desejam enviar uma carta para Jesus, esposo e pai deixado para trás no Nordeste. Após a morte trágica de Ana em um acidente, Josué se vê desamparado – momento em que Dora, interpretada por Fernanda Montenegro, decide ajudá-lo a encontrar o restante da família. É aí que ambos partem em uma viagem cheia de percalços por um Brasil distante, cheio de paisagens.

O filme venceu alguns dos prêmios mais importantes da história do cinema como o Urso de Prata de Melhor Atriz no Festival de Cinema de Berlim, bem como o BAFTA e o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro. Passamos perto do Oscar! Dois fatos curiosos sobre esta produção: 1) Vários dos depoimentos que aparecem no longa são, de fato, reais e, após as filmagens, o diretor Walter Salles fez questão de depositar as cartas nos correios. 2) O jove Vinícius Oliveira, que à época tinha apenas 11 anos, nunca havia atuado. Ele foi garimpado pela equipe de Salles em um aeroporto do Rio de Janeiro, em que trabalhava como engraxate.

Auto da Compadecida (2000)

No ano seguinte ao turbilhão de acontecimentos que sucederam “Central do Brasil”, Fernanda Montenegro recebeu um telefonema de Guel Arraes, convidando-a para adaptação de um dos maiores clássicos da literatura brasileira: “Auto da Compadecida”, do saudoso Ariano Suassuna. A história, baseada neste sucesso do teatro, tem lugar no vilarejo de Taperoá, sertão do Estado da Paraíba, na década de 1930. Como protagonistas estão o espertíssimo João Grilo e seu amigo, o aventureiro Chicó, interpretados por Matheus Natchergaele e Selton Melo.

A dupla, que sobrevive às custas de pequenos golpes, acaba se metendo em encrenca com a chegada do cangaceiro Severino. Não sobra ninguém: Chicó, João Grilo, Eurico, Dora, Padre João e o Bispo, todos personagens chave da narrativa, acabam morrendo e indo parar no purgatório. Lá passam pelo julgamento de Maurício Gonçalves, um Jesus Cristo negro; Luís Melo, o diabo; e Fernanda Montenegro, a digníssima Nossa Senhora, a Compadecida.

A Falecida (1965)

Não é preciso conhecer a fundo a carreira de Fernanda Montenegro pra saber de sua profunda relação com a obra do escritor e roteirista Nelson Rodrigues. Em 1965, a atriz protagonizou a adaptação cinematográfica da peça “A Falecida”, que conta a história de Zulmira, uma mulher frustrada e vítima de tuberculose. Após uma visita à cartomante, ela passa a ter apenas uma ambição, ela deseja ser enterrada da maneira mais luxuosa possível, provocando o máximo de inveja em seus vizinhos. Ela também tem entre seus anseios a perturbação de Glorinha, prima que parou de cumprimentá-la.

Cheia de obsessões e traições, a trama originou uma cena belíssima em que a atriz se banha com a água da chuva, num desejo avassalador de fugir da vida que leva.

O Beijo no Asfalto (2017)

Por falar em Nelson Rodrigues… após muita insistência de Fernanda, o autor decidiu escrever uma peça para ela. Após algum tempo trabalhando no roteiro, surgiu “O Beijo no Asfalto”, tragédia carioca que se debruça sobre a má sorte de Arandir. Após ver um homem ser atropelado em sua frente, o personagem ouve um último sussurro e resolve atender àquele último pedido antes de morrer: que lhe dê um beijo na boca. O ato é flagrado por seu sogro e por um repórter policial sensacionalista, que faz com que a história se transforme em um verdadeiro espetáculo – e sua vida seja destruída. Nesta segunda adaptação (a primeira veio nos anos 1980), Fernanda retorna como D. Matilde, mãe de Selminha, sua personagem na montagem original.

Olga (2004)

Forte, o filme biográfico da militante alemã Olga Benário também conta com a presença de Fernanda Montenegro. Situado na Berlim do século XX, a obra remonta os dias de luta da jovem judia, comunista, perseguida pelo regime de Hitler. Na trama, a atriz interpreta dona Leocádia Prestes, mãe de Luís Carlos Prestes e avó da filha que o político teve com a protagonista, vivida por Camila Morgado, antes de ser enviada às câmaras de gás do holocausto.

A Hora da Estrela (1985)

Clarice Lispector ficaria orgulhosa se estivesse viva pra ver, em 1985, à adaptação de “A Hora da Estrela”, uma de suas principais obras literárias. Com direção de Suzana Amaral, o longa entrou 20 anos depois para a lista de 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos. A narrativa conta a história de Macabéa, uma jovem nordestina, humilde e órfã de pai e de mãe que aos 19 anos vai para São Paulo ser datilógrafa. Lá, vivendo em uma pensão, conhece Olímpico de Jesus, um rapaz esperto com quem começa a namorar. A relação não dura muito e rui de vez graças às investidas de Glória, sua colega de trabalho, por quem é trocada.

Sem saber como lidar com a situação e afundada em tristeza, a garota recomenda que Macabéa procure sua cartomante, interpretada por Fernanda, que lhe revela um futuro repleto de grandes feitos: além de ganhar uma grande fortuna, seu ex lhe pediria novamente em namoro e um gringo se apaixonaria por ela. A concretização desse destino não é bem assim: Macabéa, deslumbrada com as possibilidades, acaba sendo atropelada por uma Mercedes ao sair da consulta e morre.

A Dama do Estácio (2012)

Considerado um filme de média-metragem, “A Dama do Estácio” conta a história de Zulmira, uma prostituta idosa que acorda obcecada com a ideia de que irá morrer em breve. Começa aí sua saga em busca de um caixão. A obra chamou a atenção por ter recebido bons feedbacks à época de seu lançamento – algo que animou o jovem diretor Eduardo Ades, que era um estreante.

Eles Não Usam Black-Tie (1981)

Novamente convidada pra encenar uma peça de teatro em formato cinematográfico, Fernanda Montenegro toma para si em “Eles Não Usam Black-Tie” as vivências de Romana, uma mulher corajosa, com uma vida cheia de sofrimentos, que tem como filho o operário Tião. Incansável, o personagem decide se unir a um movimento grevista em sua empresa. Preocupado com a namorada que engravidou, eles decidem se casar. Para não perder o emprego, ele decide furar a greve, liderada por seu pai, iniciando um conflito de família que vai bem além das assembleias.

A Vida Invisível (2019)

Esta é a produção mais recente da filmografia de Fernanda. Com direção de Karim Aïnouz, “A Vida Invisível” é baseado no livro de Marta Batalha, “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão”, e chega aos cinemas no próximo dia 31 de outubro. A narrativa, um drama, tem seu ponto de partida em antigas cartas deixadas por Guida, uma mulher dada como desaparecida há décadas.

Quem as encontra é sua irmã, Eurídice, uma senhora de 80 anos que desde os anos 1950 não tem notícias suas. Vivendo a dor de uma separação brutal, provocada pelo conservadorismo, ela mergulha em seu passado para relembrar os acontecimentos que fizeram a personagem, com então 18 anos, fugir para viver um grande amor. Grávida e sozinha, ela retorna para a família, mas é expulsa pelo pai, impedida de compartilhar seus sonhos adolescentes com Eurídice. Começa aí o drama das duas irmãs, impossibilitadas de seguir em frente e de reforçar seus laços fraternos.

Menção honrosa: “O Amor nos Tempos do Cólera” (2008)

Apesar de não ter sido bem recebida pela crítica, a adaptação do clássico “O Amor nos Tempos do Cólera”, do Nobel de Literatura Gabriel García Márquez, entregou à parte ao público uma atuação belíssima de Fernanda Montenegro. Novamente se vendo em uma produção de alcance internacional, a atriz topou atuar pela primeira vez em inglês e assumiu o desafio de interpretar a mãe de Florentino Ariza. O rapaz se apaixona à primeira vista pela bela Fermina Daza, com quem mantém um breve e proibido romance. Impedidos por sua família de construir uma vida juntos, eles precisam seguir por caminhos diferentes ao longo do tempo. E que tempo, viu? Seu reencontro só foi acontecer 51 anos, 9 meses e 4 dias depois.

Toda a história se passa ao som de canções de Shakira e do também brasileiro Antonio Pinto, responsável por algumas das canções de “Central do Brasil” e “Cidade de Deus”.

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