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música

Silva fala ao Papelpop sobre expectativa para o Lolla, brasilidades e a força do amor na música

Em “Brasileiro”, quinto álbum de estúdio do Silva, ele traz os seguintes versos: “Tá linda a paisagem/Não dá mais pra esperar”. Essa poesia faz parte da faixa “Duas da Tarde”, que cá entre nós, encaixa-se perfeitamente ao que foi a última terça-feira (12), quando o Papelpop marcou de trocar uma ideia com o cantor. O horário era o mesmo, nós estávamos doidos pra falar com ele e o céu – que era só chuva – abriu e ficou lindo.

Por telefone, o capixaba comentou sobre esse momento agitado da carreira. Além de seus próximos passos na estrada (na próxima semana Silva embarca rumo a Portugal para uma turnê e ao longo dos meses seguintes toca nos dois maiores festivais do Brasil), ele falou sobre as tais brasilidades que vem embalando seu trabalho, a amizade com Lulu Santos e a representatividade que enxerga no amor.

Ah, ele também revelou os shows que quer ver no Lollapalooza, em que também será uma das atrações. Vem ler!

Papelpop: Silva, antes de mais nada, vamos falar de Lollapalooza. Você toca dia 06 de abril no festival, falta menos de um mês… como anda a expectativa?

Silva: Então, eu tô super ansioso, mas acho que de um jeito bem diferente de 2014 quando foi a minha primeira vez tocando lá. Já faz cinco anos, então eu tô ansioso de um jeito diferente, um jeito bom, um jeito empolgado, sabe? Naquela ocasião foi uma coisa meio estranha, eu tinha acabado de lançar o segundo disco, tinha pouquíssima experiência, acho que um ano e pouco de carreira, se fosse somar disco, turnê e tal.

Fazendo um balanço, ao subir no mesmo palco em dois momentos distintos da sua carreira, o que você enxerga de mudança?

Então, naquela ocasião foi meio assustador. Mas de lá pra cá eu venho tocando muito. Quase sem parar, emendando um disco no outro, uma turnê na outra, o que é muito bom. Me deu uma bagagem e uma experiência maior como músico, como cantor… mais segurança, no geral. Então eu já sei o que fazer pra me preparar e não ficar inseguro. Tô muito curioso pra ver como vai ser.

Eu confesso que gostaria muito ver o seu show e o da St. Vincent. Tem alguma das atrações, nacional ou gringa, que você queira muito assistir?

Que honra! Eu consegui escolher o repertorio e já mandei pro cara que faz os arranjos. Pedi fazer algo bem lindo! Aqui eu já deixei tudo encaminhado, pois embarco logo pra Portugal e já volto em cima. Os shows que eu quero ver… compartilhamos o mesmo desejo. Quero ver St. Vincent, ela é maravilhosa! Já tive a oportunidade de assisti-la no festival Primavera Sound, em Barcelona, e ela toca demais, canta demais. Tem uma coisa estética ali, os figurinos são lindos, a banda trabalha em sincronia, pensa junto. Acho tudo isso muito encantador. Eu diria também Jorja Smith, porque eu nunca a vi ao vivo, acho a voz dela incrível. E Lenny Kravitz. Ele é um sex symbol né? (risos) Acho um cara muito bonito, além de ser um gênio, musicalmente falando. Outra coisa que eu achei muito legal foi ter Tribalistas nesse line-up, porque traz uma coisa bem brasileira. As bandas gringas sempre vem etc e tem um espaço de destaque. Aqui tem tanta coisa importante… Eu nunca os vi ao vivo, a Marisa até me avisou quanto às datas da turnê, mas quando vi a minha agenda, logo falei “Ixi”… Todas as vezes eu tava tocando em alguma cidade distante. Vai ser minha oportunidade de me redimir, vou ficar muito feliz!

Silva, é importante lembrar que 2019 vai ser um ano de plateias imensas pra você. Em setembro você sobe ao palco do Rock in Rio com o Lulu Santos. O convite partiu de quem?

Ah, esse vai ser muito bom! O convite veio de Lulu, a gente se gosta muito desde o começo, quando ele gravou uma musica comigo, um single chamado “Noite”. Nessa época, lá em 2013, eu acho, a gente ainda não tinha muito aqui no brasil essa cultura de se trabalhar um single. A gente aprendeu melhor isso agora, então a musica ficou bem avulsa, não entrou em nenhum disco. Foi aí que começamos essa relação musical. A gente não se vê sempre, mas a gente se adora, conversar com ele é demais. Lulu tem uma coisa engraçada, ele entende de música pra caramba. Fomos assistir ao Grammy juntos uma vez, em 2017, e eu fiquei impressionado. É um cara extremamente ligado em tudo q acontece, ele me manda indicações, sempre atento aos novos artistas. Acho que ele é um musico muito interessante, que poderia ter ficado naquela de hitmaker e pensar “já fiz tudo”, mas não. É esse excesso pop! Quando ele fez o convite pra tocar, fiquei muito feliz. Não tinha tocado ainda no Rock in Rio no Brasil, embora já tivesse me apresentado em Lisboa, então esse ano é especial.

Em algum momento já passou pela sua cabeça a ideia de ambos unirem forças e caírem na estrada em uma turnê conjunta?

Já super passou! (risos) A gente até conversou, mas foi aquele papo informal, então eu não sei, a gente ainda não tem um plano. Quem sabe depois do rir a gente não anime em fazer? Eu ia amar, porque eu gosto de flertar com coisas que me desafiem. Eu lembro de quando toquei com a Gal Costa em 2015. A gente tem aquela coisa de brincar né, tocar com “os dinossauros da MPB” é um sonho. E Lulu veio pra me apresentar esse lugar mais pop. Toca em radio o tempo inteiro, faz um som muito interessante, tem um show com uma sequência frenética de hits. Vamos ver o que acontece! Tomara q aconteça muita coisa boa!

Uma coisa que tem me deixado curioso é a setlist que você montou. Não posso deixar de perguntar o que vem sendo preparado pro Lolla. Vai ter alguma surpresa?

O show vai ser focado em “Brasileiro”, meu último disco. Depois de um ano, já dá pra dizer que é quase um disco clássico. Também devo revisitar algumas coisas que acho que foram representativas, algumas coisas de “Canta Marisa”, e dos meus discos mais antigos também. Tudo o que for de mais importante na minha carreira e que combinar com o festival. Você sabe, o clima, aquela coisa de tocar de dia. Meu show, se não me engano, é às 15h. Então tem q ter esse clima solar, mais alegre.

Você é um grande conhecedor da música brasileira, mas é impossível não pensar na pesquisa a fundo que você fez pra compor seus trabalhos mais recentes. Ainda existe algo que você não tenha experimento e que gostaria de trabalhar em algum projeto futuro?

Ai, tem muita coisa! Brasil é uma loucura. Teve uma épica que eu achava que sabia muito e foram aparecendo muitas pessoas. Houve muita coisa pra descobrir. O Pará mesmo é um estado que nunca explorei tanto. Todo mundo já teve uma “Era Pará” né? Me pego volta e meia adorando ouvir uns carimbós. Porém, não falando mal de curadoria – adoro quando alguém me manda algo pra ouvir – mas gosto de descobrir naturalmente. Apela pra um sentido intuitivo. Você ouve e é capaz de enfiar algo livremente no seu trabalho. O Axé, por sua vez, veio em um momento super natural. Senti muita saudade de coisas de infância, porque fui nascido e criado em Vitória. Lá a gente consumia e consome muito do que sai da Bahia. Acho que Xote também. O Gilberto Gil fala que esse é o primo mais próximo do reggae, que eu amo. É uma coisa que comecei a ouvir com outros olhos, então ainda há muito o que explorar da nossa cultura. Samba, Afoxé, Xaxado… timidamente vou botando o meu pezinho ali e começando a explorar. Ainda bem, né?

Pra fechar. “Brasileiro” reflete muito da sua personalidade, que é tranquila, mas também não deixa de assumir um tom político. As letras conversam com esse momento político, que tem sido muito conturbado, a galera exigindo posicionamentos… Na sua opinião, é preciso ser explícito, ou o simples fato de cantar sobre determinados temas como o amor já é uma forma de representatividade?

Ótima pergunta. Eu acho que isso vai depender de artista pra artista. Pessoa pra pessoa, na verdade. Acho importante se posicionar quando alguma coisa te toca. É preciso pensar também nos lugares que você alcança, por exemplo. Se você tem o alcance que a Beyoncé tem, como uma figura pop e influenciadora de tanta gente, você tem uma responsabilidade sim! Todo mundo tem uma responsabilidade dentro de um trabalho público e eu acho importante que isso aconteça de uma forma natural. Que a causa tenha ligação e você se sinta incumbido de fazer algo. Falar de amor é uma forma de resistência grande! O discurso de ódio tem sido tão descarado. Antes era cafona ser preconceituoso, e agora nem pudor se tem mais. As pessoas tiraram seus preconceitos do armário. E cantar sobre esse tema é uma coisa que nunca fica datada, ultrapassada e velha. Vejo muita gente que não concorda com as minhas convicções dizendo que gosta de mim. Eu penso “Serio? Será q prestou atenção no que eu tô dizendo?”. Eu espero poder contribuir pras pessoas se amarem mais e serem mais alegres e leves.

 

“Brasileiro”, o disco mais recente de Silva, está disponível em todas as prateleiras e plataformas digitais. Ele sobe ao palco do Lollapalooza no dia 06 de abril. Até lá, vai ouvindo aí!

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