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O sofrimento de um fã dos Pet Shop Boys vendo um show deles em 2017 no Rock in Rio

Ser fã é sofrer! Os little monsters entendem o que é isso depois do cancelamento da Lady Gaga. Mas não foi por esse motivo que sofri ao ver o show dos Pet Shop Boys agora há pouco na primeira noite do Rock in Rio. Vem comigo que você vai entender.

Chego cedo, fico perto do palco. Não tem muita gente. Vamos lá, vamos lá! É Pet Shop Boys! Vamos mostrar pra esse povo o que é hit. Tô ansioso. Sei que eles já vieram ao Brasil umas sete vezes e nada vai superar as apresentações que eles fizeram em 1994 em SP e no Rio, no auge do sucesso da banda, mas a esperança não morre. Os caras são fodas.

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Eles são, incontestavelmente, a dupla mais famosa da música pop britânica até hoje. Mudaram o cenário do pop juntando eletrônico com música clássica e composições espertas, existenciais e gays pra caralho, passaram pelos anos 80, 90 e começo dos 2000 com inúúúmeros hits e até hoje são reconhecidos por ser essa força no cenário pop.

A sagacidade das letras do Neil Tennant junto com a geniliade eletrônica do Chris Lowe influenciaram o dance pop que ouvimos hoje em dia. São mais de 100 milhões de cópias vendidas em 35 anos de carreira. Moral.

A apresentação de hoje à noite é importante também porque os Pet Shop Boys ficam sendo o maior e mais importante ato pop internacional da primeira noite de Rock in Rio, que sofreu com a ausência lamentável de Lady Gaga. Desculpa, Maroon 5, mas é verdade.

O show demora para decolar. As primeiras músicas, apesar de serem hits da banda como “Burn” e “Opportunities”, não são muito conhecidas do público. É legal, mas é como se o show não tivesse começado.

A apresentação só começa a esquentar quando Neil conversa com a plateia e avisa: “Essa é uma música que vocês deram para nós”. Aí os tambores da Bahia começam a surgir nas caixas de som e ele manda a letra de “Se a Vida É”. Anima um pouco, mas a faixa ainda não é um sucessão de FM, daquelas que o tio Medina curte e por isso traz as bandas pro Rock in Rio.

Pronto. Agora vai. Ouviu isso? Começaram os violinos de “West End Girls” e o Rock In Rio surtaaaaa! Finalmente, parece que todo mundo está acordado. Que hino, amores!

Opa! A coisa tava indo bem, parecia que agora o Brasil ia ouvir um hit atrás do outro. Mas os Pet Shop Boys escolheram “Home and Dry”, uma música, que apesar de ótima e vinda do álbum “Release”, não ajudou muito a manter a plateia entretida. A faixa ainda é extendida por alguns minutos e fica somente na batida eletrônica por um tempo para Neil sair do palco e trocar de roupa.

Eu estou relativamente perto do palco e algumas pessoas ficam de costas conversando com os amigos. Não, genteeeeee! Nãoooooo!

Neil volta com uma jaqueta prateada “muderna” e traz uma música tão “muderna” quanto o figurino. Até que dá certo porque é agitada e vem depois da lenta “Home and Dry”. Mas a música é “Vocal”, um eletrônico querendo ser atual, do álbum “Eletric”, que eles lançaram em 2013. Funciona porque o povo pula. Mas a música é datada e parece um dance do David Guetta. E eu fico pensando: “isso não é Pet Shop Boys, gente”.

Mas aí, meu querido, começa a tocar pizza sim, pizza sim, também conhecida como “It’s a Sin”. Sabe o que acontece no começo, durante e depois dessa música? Salva de palmas! O povo aplaude DURANTE a música. É como se todo mundo fosse morto-vivo e tivesse sido reanimado. “Rio, você são incríveis!”.
Olha, somos mesmo. Estamos acreditando, querendo que esse seja um showzão! Vai, amigos!

Agora vem mais um perigo, mais um teste. A dupla toca o hino, a grande música deles, “Left to my own devices”, mas ela chega tipo num remix bem “pomperô”, bem cafona e datado. Nãoooooooo! É a grande decepção da noite. Mataram a música. Cadê os violinos? Cadê. Os. Vi. O. Li. Nos? Aí o refrão chega e eu choro. E todos cantam juntos. Não sei se choro de emoção por ouvir essa letra impecável ao vivo depois de tanto tempo ou se choro de desgosto por estragarem uma obra-prima do pop. Atrás da dupla ainda tinha um balé muito breguinha que nem o Criança Esperança usaria mais. Socorro!

Go West! Go West! Chegou a hora de “Go West”. Não mexeram muito nessa. Só diminuíram o ritmo. Meu coração volta a bater normalmente. O fã aqui ainda acredita nesse show. “GO WEEEEST! LIFE IS PEACEFUL THERE!”, grito, dos pulmões, lembrando das bichas lá nos anos 70 que iam para o oeste dos Estados Unidos, para São Francisco, ter paz de espírito e liberdade porque lá nascia o movimento LGBT (a música, pra quem não sabe, é uma regravação do Village People).

Neil agradece e dá tchau! O quê??? Volta aqui porque ainda faltam umas dez músicas que são hinos! Volta!

Começa a batida de “Doming Dancing”. Ele volta com uma jaqueta dourada linda. Essa eu queria pra mim. Curti. Usaria pra dar volta na Paulista fechada.

Sabe o que acontece nessa música? O Rock in Rio canta o refrão mais alto que o Neil. É o festival cantando em coro. Ele gosta da ideia e para de cantar o refrão. O que vemos é só Neil emocionado.

Começam os acordes de “Always on My Mind”, mais um hit da banda (também um cover, mas os caras fizeram a música ser deles). O povo SURTA, PULA, COMEMORA! Voltou a ser o Rock in Rio, gente! Que emoção de sentimentos.

O show acaba. A sensação é que não decolou, que foi um teaser de um show que eles vão aproveitar que vieram para o Rock in Rio pra fazer completo e bonito em Brasília, dia 17, e São Paulo, no dia 19 deste mês.

Um show irregular, com músicas incríveis distantes uma das outras, uma apresentação curta e não muito emocionante.

Deu vontade de voltar pra casa e ouvir o “Introspective”. Deu também um pouco de tristeza perceber que, às vezes, músicas boas não são imortais. E que muitas pessoas não conheciam o que eles cantavam.

Espero que agora a galera mais nova se interesse pela banda e vá ouvir os sucessos, mesmo o show não tendo ajudado muito isso a acontecer.

Pet Shop Boys, eu te amo. Fã sofre, gente. Fiquem com esse hino, na versão original. Vamos nos abraçar?

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