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John Mayer precisa de um alter ego para o próximo álbum

música

A programação de uma rádio tem que ser feita de forma harmoniosa, não pode existir alguma faixa fora do tom para não assustar o ouvinte. Se quem está do outro lado percebe que alguma música não fez bem para os seus ouvidos, muda de estação sem titubear. O novo disco do John Mayer, “The Search of Everything”, poderia ser executado na íntegra em estações como Alfa ou Eldorado – conhecidas pela programação branda e sem grandes surpresas para quem acompanha.

Logo na primeira orelhada do álbum, tive que largar os fones para atender uma ligação e quando voltei ao ouvir, parecia que eu ainda estava na mesma faixa. Voltei para o começo e comecei a sacar esta linearidade, como encontramos nestas rádios. O fã de John Mayer e pop rock não espera que ele lance algum disco que tenha a fusão com funk ou algum ritmo fora da curva.

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Eu sintonizo nessas estações pois gosto da programação pacata que elas têm. Não quero surpresa alguma, apenas uma seleção que já é familiar para mim. Apenas. “The Search of Everything” é isso.

Ao ouvir pela primeira vez tive a impressão que já tinha ouvido o álbum várias vezes e achei confortante. Nenhuma faixa causou alguma estranheza ou algo do tipo. As letras são simples e suaves como “Still Like Your Man”, onde o cantor sente falta de sua guria e tem a esperança que possa rolar um revival.


“Ainda tenho o seu shampoo no meu chuveiro
No caso de você querer lavar seu cabelo”

Até aí, tudo bem. Fazer um disco acessível e sair tocando pelo mundo afora parece ser uma boa. Cumpre com o papel de ser pop e todos ficam felizes. Eu comecei a ler algumas entrevistas e o discurso de John Mayer é completamente oposto desta vibe.

“Queria fazer um disco o mais ambicioso possível. Meu ponto de partida é que eu quero sair da Terra como escritor”, contou para a Rolling Stone estadounidense.

É meio bizarro ter lido isso, pois não existe ambição alguma em fazer um disco romântico com uma roupagem anos 70 e inspirada em grupos como Fleetwood Mac, Eagles ou America.

Algumas semanas antes e num tom muito mais amistoso, fomos agraciados com um disco chamado “Pure Comedy”, de um cantor chamado Father Misty John. Por aqui, o álbum não fez muito alarde, mas nos Estados Unidos, terra natal do músico, vem fazendo bonito. O trabalho indaga como levamos a vida num mundo repleto de modernidades e as consequências disso. A roupagem do disco é parecida com o que John Mayer apresentou em “The Search of Everything”.

Para quem gosta de ler as pequenas letras dos encartes dos discos, vai encontrar o nome dele em “Lemonade” (Beyoncé) e “Joanne” (Lady Gaga). Ok, ele não fez a produção executiva, mas foi chamado para levar essa estética simples e direta para as cantoras em faixas específicas.

A ironia e humor nas faixas são algo que Father Misty John, cujo nome real é Joshua Tillman, exerce durante “Pure Comedy”, coisa que John Mayer passa longe em “The Search of Everything”. O ex-namorado de Katy Perry parece estar num pedestal, inalcançável. Talvez para o seu oitavo disco de estúdio, Mayer possa fazer como Father Misty John e criar um alter ego para não levar a vida tão a sério.

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O jornalista paulistano, produtor musical e marketeiro Brunno Constante analisa, pondera, escreve e traz novidades sobre música no Papelpop todas as terças-feiras.

Fita Cassete é o alterego de Brunno quando ele fala sobre o assunto.

Quer falar com ele? Twitter: @brunno.

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