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cinema

“A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell” é uma adaptação honrosa do anime e do mangá

“A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell” chega aos cinemas com duas missões: ser um ótimo sci-fi de ação para um público que não sabe nada do mangá e do anime e também um agrado para os fãs da história já tão conhecida no mundo geek.

Para quem não sabe, “Ghost in the Shell” é um mangá de 1989 que virou filme em 1995. É um clássico da cultura pop japonesa que inspirou milhares de filmes e gêneros do cinema.

O filme nos mostra a cidade de New Port City num Japão do futuro em que os humanos podem substituir membros do corpo por partes cibernéticas. Os robôs são uma grande arma militar evoluída. É aqui que encontramos a protagonista Major (Scarlett Johansson), que acorda sendo a primeira pessoa a ter um corpo totalmente robótico, mas com cérebro humano.

Ela não lembra do passado e confia no que sua criadora, Dra. Ouelet (Juliette Binoche), conta pra ela sobre o que é a sua história. E é aí que vem o plá do filme….

O diretor Rupert Sanders (“Branca de Neve e o Caçador”) se preocupa em honrar a obra do Masamune Shirow e, mesmo assim, trilhar um caminho novo. Com isso, ele acaba abrindo mão um pouco das questões filosóficas do mangá.

“A Vigilante do Amanhã” não é um “live-action” do anime. O filme é sobre a origem de Major (Scarlet Johansson). Por conta disso, o longa faz uso de alguns pontos em aberto da história original e cria um plano de fundo novo para todos os personagens.

Por exemplo: o vilão é o Kuze, um hacker terrorista que tem um passado com Major e quer destruir a Hanka – empresa responsável pelo avanço cibernético do mundo. Ele vem da série “Ghost in the Shell: Stand Alone Complex”, outra manobra para uma nova história no mesmo universo.

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Uma vantagem de criar uma nova história é termos mais personagens femininas. No original – além de Major – todos os personagens importantes são homens. Nesse filme, ganhamos a Dra. Ouelet, interpretada pela maravilhosa Juliette Binoche (um poder em cena!) e Ladriya, nova integrante da equipe da Johansson.

A história de Major é muito bem contada, e o filme melhora cada vez mais que a personagem vai se descobrindo e se relacionando com o vilão. Mas tem muita coisa legal que dá vontade de conhecer e acabamos passando reto.

A ambientação é impecável

Uma missão muito bem cumprida da adaptação é criar o ambiente do filme. Não dá para botar defeito. Está impecável. O filme também salienta que o futuro não é todo lindo não. Ele também é sujo. A tecnologia salientou a marginalização com o mercado negro vendendo peças alternativas, lixo em excesso e pobres deixados na ferrugem.

Em New Port City, o que é “bonito”, a propaganda, o crime, a polícia e as grandes empresas, é uma crítica política da história.

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O visual ser semelhante ao anime é algo grandioso. “Ghost in the Shell”, assim como “Blade Runner”, deixaram um legado que acabou por inspirar filmes como “Matrix”, “Ex-Machina”, “Círculo de Fogo” e vários outros filmes. Então é como se finalmente estivéssemos vendo um dos pais do gênero nos cinemas.

É um ambiente tão vivo e cheio de camadas que vira até um personagem se você prestar atenção. Seria ótimo se Sanders tivesse dedicado mais tempo para nos contar mais sobre isso.

Um elenco justo e brilhante

Eu sei que há o whitewashing na escolha de Scarlett Johansson para ser a Major. Mas não desista do filme por conta disso! Não vamos entrar em detalhes (eu explico com spoilers mais abaixo), mas a escolha dela para o papel tem um fundo muito mais completo que se desenvolve na história.

Scarlett Johansson está ótima e fiél à personalidade de Major. Não é muito diferente de “Lucy”, “Sob a Pele” e “Vingadores”, mas é o suficiente para entregar o talento que ela tem para as sequências de luta e para o ar desumano que ela tem. Em todo o momento, ela tem uma crise de identidade por ser uma robô e ela entrega isso muito bem.

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Outro acerto enorme: a decisão de colocar o ator Takeshi Kitano para ser o Aramaki, líder da Seção 9, um órgão público para resolver crimes cibernéticos. Kitano é um ator lendário de filmes de ação japonês e está quase como uma homenagem. Cada cena de ação dele o faz brilhar demais, com uma coreografia de luta maravilhosa e um papel político importante.

Essa é mais uma forma do filme honrar as origens japonesas da história. Ele fala em japonês em todos os momentos e o povo é obrigado a entender.

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Pilou Asbæk está ótimo de Batou. Ele consegue passar aquele ar grandalhão bem humorado que conhecemos e também ganha um plano de fundo novo e interessante.

O elenco também é muito mais diverso. Lembrando, a história original é do começo dos anos 90. Não é mais legal ver um filme sobre o futuro com várias etnias sendo representadas? Eu achei.

Mas e aí, vale a pena?

Eu sou fã de “Ghost in the Shell” e adorei o filme. A adaptação é diferente, mas é justa e respeitosa. A ambientação é linda, tem muitos elementos da cultura japonesa e todas as situações clássicas – tipo o Mergulho Profundo – são muito legais!

A história abre um novo espaço de discussão sobre “Ghost in the Shell”. Ao longo do filme, você entende porque os novos personagens estão ali e porque algumas mudanças foram feitas (tipo a Major se chamar Mira). Tem cenas de ação aos montes? É menos sério? Sim. Mas o mangá é bem assim também, por exemplo.

Os fãs vão gostar e vão ficar empolgados. Para quem não conhece, também é um ótimo sci-fi com uma discussão interessante e belas cenas de ação.

ATENÇÃO! SPOILER FEROZ E RADICAL!

Já falei tudo que eu queria falar do filme. Você pode parar aqui numa boa. Eu só estou avisando que o spoiler abaixo é mesmo sobre o final do filme… Então vai estragar a surpresa se você continuar…

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Vamos falar da polêmica da Scarlett Johansson viver a Major. Isso revoltou muitos por ela ser uma atriz ocidental protagonizando uma heroína japonesa. O filme foi acusado do famoso “whitewashing” de Hollywood. Quando soubemos que Major se chamaria Mira, em vez de Motoko Kusanagi, pensamos: “Tá aí uma manobra para amenizar o estrago”.

Pois bem, há uma grande reviravolta. Major descobre que todo o passado dela foi implantado pela Hanka. No final, ela visita um lugar que traz todas as lembranças verdadeiras. Ela vê ela mesma sendo levada por policiais a força, Motoko era uma rebelde contra o avanço tecnológico e foi raptada para experimentos.

A câmera foca no rosto de Motoko e descobrimos que ela era sim japonesa!!! E, ao ser transformada em Major, ela sofreu o “whitewashing”. Faz sentido. Hanka é uma empresa japonesa, mas influenciada por vários poderosos ocidentais. Mostrar uma empresa que pega japoneses e os transforma em máquinas de guerra ocidentais é uma crítica, ou não?

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É outro furo da história original que foi usado para contar algo. Tanto no mangá quanto no anime, não há nenhuma referência sobre o passado de Major.

No final, Major assume o nome dela de Motoko e encerra dizendo “Minha alma é minha identidade. Meu corpo é fabricado”. É importante, vai. O que acham?

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