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Melim fala ao Papelpop sobre experiência de cantar Djavan em novo álbum

música
Divulgação/Foto: Sergio Blazer
Divulgação/Foto: Sergio Blazer

Às vésperas do Dia dos Namorados, a banda Melim lançou nesta sexta-feira (11) “Deixa Vir do Coração”. Repleto de romance, o álbum traz releituras de 13 canções do Djavan, um dos grandes nomes da música brasileiras. Entre as faixas, estão hits como “Se”, “Eu Te Devoro” e “Flor de Lis”. O próprio homenageado participa do projeto, cantando “Outono” ao lado de Gabi, Diogo e Rodrigo.

Para saber mais sobre o disco, nós batemos um papo com o trio de irmãos um dia antes do lançamento por meio do Zoom. Eles contaram que a ideia inicial surgiu a partir de uma conversa casual e da admiração que sempre tiveram por Djavan. Trabalhar nas releituras junto com o produtor Max Viana, filho do homenageado, foi mais uma felicidade. “Sempre quisemos trabalhar com ele, só não tínhamos encontrado uma oportunidade ainda”, confessou Diogo.

Na entrevista, também falamos sobre a seleção das músicas que entrariam para o projeto, as releituras favoritas da banda e a complexidade das composições do Djavan. Para os irmãos Melim, apesar de não serem tão óbvias, todas as letras têm um sentido, um “significado muito bonito” nas palavras da Gabi.

Confira:

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Papelpop: Como surgiu a ideia de homenagear o Djavan com um álbum de releituras com produção do Max Viana?

Diogo: Surgiu muito naturalmente de uma conversa que tivemos. Não lembrava tinha sido em uma van, mas o Rod e Gabi falaram isso Queríamos fazer algo que estivéssemos com vontade. Foi até um lado meio rebelde falar: “Cara, estou a fim de fazer qualquer coisa que eu esteja muito empolgado pra fazer”. O Djavan é um cara que participou da nossa carreira, da nossa vida desde sempre. A música dele influencia muito a nossa musicalidade e faz nos companhia no dia a dia. Nós nem sabíamos se seria possível fazer uma regravação das músicas do Djavan porque teria que pedir autorização e tal. Junto com essa ideia, já teve o Max. Foi automático porque ele fez parte da nossa vida desde o começo. Ele, inclusive, já quase produziu um disco da Gabi que só não ficou pronto porque viramos Melim no meio tempo e não faria mais sentido lançar. O Max nos acompanhou no “SuperStar” e diversos programas de TV também a partir dos bastidores. Nos encontramos muitas vezes na estrada. Ele é sempre muito gentil, carinhoso e curte o nosso som. O Rod ainda levantou um bom ponto: o Max é um cara que conhece muito a obra do pai e seria uma pessoa boa para nos ajudar nesse desafio. As músicas têm melodias e letras complexas letras complexas, com muitos detalhes. O Max também trouxe uma segurança de saber que, se qualquer coisa estivesse saindo do eixo, teríamos ajuda para voltar para o eixo. Sempre quisemos trabalhar com ele, só não tínhamos encontrado uma oportunidade ainda. Quando a gente teve essa ideia de fazer o uma homenagem pro Djavan, o Max já veio associado.

Qual foi o critério para decidir quais músicas entrariam para o projeto?

Gabi: O repertório do Djavan é muito vasto e profundo. Não dá pra resumir a obra dele, sabe? É uma vida inteira de dedicação à música. Para chegar em treze música, foi muito difícil. Fizemos o primeiro corte de vinte músicas. De vinte, nós iríamos escolher dez, mas não conseguimos. Cortamos só sete e ficamos com treze. Escolhemos músicas com as quais nos conectávamos muito. Quisemos mesclar bastante entre o lado A e B do Djavan.

Rodrigo: Uma coisa que uma coisa que veio na nossa cabeça lá no início, quando começamos a montar o repertório foi: “Será que a galera vai encarar esta homenagem como se fosse um resumo da obra do Djavan?”. Quando o assunto é Djavan, você fala não só com o público da nossa idade, que é considerado o mais novo, mas também com o público mais velho, aquele que o acompanha a vida inteira. Pensamos: “Para essa galera que vai ouvir o álbum, isso vai representar o que é o Djavan?”. Depois, caímos no ponto mais verdadeiro da história: essa homenagem traz músicas que fazem parte da nossa vida, de coisas que gostamos e calham de ser naturalmente mais dos últimos álbuns. Também tivemos um trabalho em equipe com Max, Juliano Moreira e Lelê, que conhecem coisas mais antigas do Djavan para trazer algo que fosse diferente e não ficasse só os maiores sucessos. O desafio foi tentar colocar o máximo de músicas que nos representasse e trazer novidades, coisas que também conhecemos no processo de escolha do repertório. O Max, por exemplo, nos apresentou muitas músicas lindíssimas.

Entre as canções que regravaram, vocês conseguem escolher uma como a favorita?

Diogo: É realmente difícil, porque cada uma vai ser favorita por um aspecto. “Outono”, por ser a música que cantamos com o Djavan, acaba sendo associada a toda experiência da gravação. A mais especial acho que vai ser “Outono” por esse motivo, pelo contexto. Eu acho que cada música tem o seu valor. Eu gosto muito de “Eu Te Devoro”. O final do refrão me lembra muito uma situação que eu já passei, de estar longa da minha filha. Ele fala: “Sem saber de ti, jogado à solidão / Mas se quer saber se eu quero outra vida / Não, não”. Mesmo sendo difícil, ele ama a vida do jeito que é. Quando eu estava longe da minha filha por estar fazendo muitos shows, essa música foi uma libertação para mim. Gosto muito dessa letra, ela é muito bonita. Se formos falar das nossas gravações, eu gostei muito da “Navio”. Todas as músicas estão lindas, mas “Navio” tem uma energia muito Melim, leve, que daria para ser super dos nossos álbuns

Rodrigo: Acabamos tendo um carinho por todas as músicas. “Eu Te Devoro” é uma música muito especial para mim porque já vínhamos fazendo uma versão dela em todos os nossos shows há muito tempo. Inclusive, fizemos uma versão de voz e violão em muitos festivais. Isso se tornou um momento muito especial das apresentações junto com as músicas mais românticas, como “Dois Corações” e “Transmissão de Pensamento”. Eu tinha muita vontade de poder oficializar essa versão, fazer algo que as pessoas pudessem ouvir também em casa. Quando tivemos todo esse trabalho de ouvir as obras que a gente ia gravar para poder respeitar o máximo possível as melodias que o Djavan criou, eu voltei a cantar “Eu Te Devoro” de uma forma mais original e consegui enxergar mais beleza ainda do que na versão feita para os nossos shows, com algumas alterações de melodia. Eu estou feliz por ter conseguido voltar a cantar da forma original, que não é tão aguda em algumas regiões. Então, “Eu Te Devoro” é muito especial. Acho que “Oceano” também porque tem uma melodia incrível e um andamento diferente. Tem ainda “Nem Um Dia”, que gravamos com Juliano Moreira, um guitarrista que está tocando com a gente desde o início, nos primeiros vídeo no YouTube. Tínhamos uma vontade muito grande de ter essa conexão mais profunda e fizemos o convite para ele cantar conosco. Ela se tornou uma música muito especial nesse projeto.

Eu gosto que, ao ouvir as releituras, dá para perceber que tentaram trazer um pouco das características Melim para cada uma das faixas. Como foi esse processo?

Gabi: Como fizemos voz e violão, conseguimos trazer a nossa identidade muito forte porque os primeiros vídeos que publicávamos na internet no início da Melim eram em voz e violão com um cajon no máximo. Acho que isso já traz uma identidade muito nossa. Trouxemos essa ideia do acústico para não brigar com a obra original e trazer o melhor que temos de alguma forma. Sempre escutamos da galera que o nosso melhor formato é o voz e violão. Deve ser porque são muitos vocais e eles acabam preenchendo como um instrumento preencheria. Fazemos os arranjos com vozes e tal.

Rodrigo: O primeiro passo, na verdade, foi aprender as melodias originais Djavan, porque uma coisa é você cantar por cantar e outra é você gravar a música. Você percebe que as notas acabam sendo diferentes. Acho que, para todos nós, o primeiro passo foi realmente parar, escutar e reaprender como cantar as músicas. O segundo foi incrementar. Uma coisa bem importante que o Max falou foi: “Quando forem mudar a melodia ou qualquer coisa nas músicas, façam mudanças que sejam relevantes a ponto das pessoas perceberem que foi uma algo proposital e não soe como um erro”. Tomamos isso como verdade. Pegamos as primeiras partes das músicas para poder cantar um pouco mais dentro do original. No desenvolver delas, criamos algumas outras coisas. Naquelas músicas que tinham um instrumental um pouco maior no início, criamos naturalmente um arranjo, o que não é uma modificação na letra ou na melodia, entendeu?

Diogo: Quando você se propõe a gravar Djavan em um álbum oficial, é muito responsabilidade. É um tipo de responsabilidade que não tínhamos tido ainda, porque uma coisa é você cantar nessas redes sociais por gostar e outra é lançar mesmo. Nós geralmente gravamos as nossas próprias canções. Então, não temos o desafio de transformar nada para o Melim porque podemos ser o quanto Melim quisermos. Agora, se tratando de uma de obra de outro artista, você tem que encontrar esse meio-termo. Foi uma experiência diferente. Eu cheguei a falar com o Rod em um momento e dizer: “Como vamos fazer para poder conseguir dar a nossa cara sem perder o Djavan, desrespeitar as melodias e tudo mais?”. Acabou sendo um processo tranquilo a partir do momento em que internalizamos todas as músicas, os detalhes que deixávamos passar despercebidos quando ouvíamos as músicas na nossa vida. Acho que fomos bem comedidos também. Não fizemos tantas alterações além da nossa interpretação e identidade vocal. Poderíamos ter variado muito mais, mas não variamos justamente porque essa era a medida perfeita do carinho, do respeito e do Melim. Embalamos bem bonito o presente. Espero que as pessoas gostem, sintam o Melim, o Djavam e essa sinergia que é a conexão entre os dois.

Agora confessem para mim: vocês entendem as letras do Djavan? A galera vive zoando na internet que elas são muito difíceis de se compreender. 

Gabi: Eu não sabia desse meme. Deve ser da galera jovem. Nós recebemos tantas músicas que vêm muito mastigada ou sem uma profundidade de letra, que também têm importância porque todo tipo de manifestação artística tem o seu lugar, mas talvez seja por isso. Algumas letras são complexas, mas acho que, quando você tenta entender, todas têm um significado muito bonito. Algumas eu também tive dificuldade de entender logo de cara. Depois de um tempo ouvindo, até busquei algumas entrevistas, e fez muito sentido, sabe? Tudo tem um sentido.

Rodrigo: A música tem que ser interpretada com sentimento. Você não pode querer julgar a letra por si só ou a melodia por si só, porque tem que ser tudo junto. Uma prova disso pra mim é que, por exemplo, “Oceano” é uma faixa em que todo mundo canta do início ao fim com contexto romântico, positivo. Eu fui parar para ouvir “Oceano” esses dias e eu me dei conta de que, na verdade, a letra é sobre estar sem a pessoa que gosta. Eu nunca cantei ou senti “Oceano” assim. Se for parar para ler, a letra é assim: “Assim / Que o dia amanheceu / Lá no mar alto da paixão / Dava pra ver o tempo ruir / Cadê você? Que solidão / (…) Amar é um deserto / E seus temores”. É engraçado como não cantamos a música dessa forma, cantamos como se fosse “Dois Corações”. Então, as pessoas não têm que tentar pegar palavra por palavra e tentar entender. Acho que têm que tentar sentir mesmo, porque não dá para errar. E nós sentimos todas as músicas do Djavan independentemente do que está escrito. Elas obviamente são de uma genialidade singular. Você consegue perceber muitos detalhes e entender a conexão depois de analisar.

Diogo: Isso é uma característica das músicas do Djavan. Não necessariamente você vai ter o entendimento racional na primeira ou segunda vez que escutar. Talvez você não vai entender a linha de pensamento dele nunca, mas isso não é o mais importante porque a arte causa um sentimento muito maior do que a racionalidade. Eu acho que todas as músicas do Djavan segue, sim, uma linha de raciocínio que talvez não seja muito explícita. Sobre as músicas, por exemplo, perguntamos para o Max: “Ele joga umas paradas no ar só para dar um cheio na música ou têm um sentido?”. Aí, o Max explicou. Ficou uma coisa muito clara e fez super sentido. Essa é uma característica do Djavan mesmo, porque para ele faz sentido.

Gabi: Nem tudo precisa ser tão óbvio. Isso é legal. Eu lembro que não entendi “Açaí” na primeira vez que ouvi. Depois de ouvir uma entrevista, ela fez todo o sentido. Quando ele fala “açaí, guardiã”, é porque o açaí alimenta as pessoas e tira a fome. Quando ele fala “zum de besouro”, é porque passou um besouro na hora, entendeu? Tudo tem uma conexão. Não é como se o Djavan colocasse coisas desconexas. Tudo é de uma riqueza e sensibilidade muito madura. Talvez, por isso, algumas pessoas não consigam entender de cara.

 

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