Voltar para o topo

Agora você pode adicionar o PapelPop a sua tela inicial Adicione aqui

papelpop

Vencedor do Globo de Ouro, conversamos com o compositor Jon Batiste sobre a trilha sonora de “Soul” da Disney

Vencedor do Globo de Ouro pelo seu trabalho como compositor na animação “Soul” da Disney, conversamos com o incrível Jon Batiste – e olha que “incrível” é muito pouco para definir o artista, viu? O músico é composto por um talento sem igual e está com sua carreira a mil já que, além de todo o reconhecimento atual por conta do longa de animação da Pixar, Jon também é diretor musical no programa “The Late Show: With Stephen Colbert”, está no desenvolvendo um musical da Broadway sobre a vida do artista Jean-Michel Basquiat, e tem um lançamento marcado para o seu novo disco de jazz “We Are” para ainda este mês. O novo disco mistura um pouco de todos os gêneros musicais que Jon diz ter o influênciado durante sua vida, e complementa: Música é vibração e não só notas e melodias. É sobre energia, frequência e espiritualidade. Essa é a vibe!”. Entendeu? Vem ouvir o single “I Need You” então, ó:

Com muito bom humor, conversas sobre o Brasil, rap, Disney, Angela Bassett – tudo com direito à respostas maravilhosas e pausas inesperadas para ouvir e conhecer algumas músicas e artistas–, a entrevista com o músico foi uma alegria! Experimentar e conhecer mais sobre jazz virou a obrigação mais legal que poderíamos imaginar em ter depois de alguns minutos com o gênio Jon Batiste. Entenda:

PAPELPOP: Preciso começar essa conversa falando sobre Soul, porque que filme mais lindo! Estamos acostumados com a musicalidade nas animações da Disney, mas Soul realmente levou a qualidade da coisa para outro nível! Como foi participar desse projeto? Você já compôs para uma animação antes?

JON BATISTE: Trabalhar em “Soul” foi o trabalho criativo mais gratificante que eu já trabalhei até hoje. Foi uma experiência colaborativa muito linda, e o nível da produção – que eu trabalhei por dois anos –, realmente deu conta e fez jus à autenticidade ao elemento verdadeiro do que estava lidando: cultura negra, música negra, Nova York, espiritualidade… Tudo isso se juntou de um jeito muito inovador! E tinham tantas coisas que estão no filme que eu não sabia do resultado final! Até mesmo a primeira cena, a qual eu escrevi o diálogo e eu falei com a equipe de uma forma muito espontânea – sobre como era a minha relação com os meus professores e tal. Então tem muito da minha história nesse filme… Muito da minha essência! É gratificante demais, não vou mentir.  

 

PP: Foi a sua primeira vez trabalhando em uma animação?

Jon: Foi a minha primeira vez trabalhando num longa animado e eu não fazia ideia da precisão da animação em algumas coisas, tipo no movimento das minhas mãos enquanto eu tocava piano! Haviam várias câmeras focadas nas minhas mãos para gravar, e é incrível como conseguiram capturar a essência do Joe através delas. Incrível de ver! 

 

PP: Então você não tinha ideia de algumas cenas que estavam no final do filme? Você diria que suas expectativas foram excedidas?

Jon: Eu não diria que elas foram excedidas, mas eu já havia visto vários cortes e versões do filme durante os dois anos de produção, então eu vi muitos esboços! Então quando eu sentei no cinema para assistir o produto final, eu fiquei “UAU! A gente fez isso! Ficou assim!”. 

 

PP: Como foi compor algo para a Angela Bassett tocar – mesmo que por uma personagem animada? 

Jon: É engraçado, porque eu a conheci e saímos pra jantar antes de toda a ideia do filme existir, então tive a oportunidade de a conhecer como pessoa e conversar sobre a relação dela com New Orleans… E conhecê-la assim me ajudou muito com a sua personagem, e como eu queria que a sua personagem soasse. Eu conhecia muitas pessoas no mundo do jazz que são como a Dorothea, e quando consegui somar isso com a minha relação com a Angela, sabia na hora como queria que as coisas se desdobrassem! 

 

 

View this post on Instagram

 

A post shared by Jon Batiste (@jonbatiste)

PP: E você sabe disso e deve estar cansado de ouvir a respeito, mas vou falar também: ficou incrível! Agora Jon, por curiosidade, posso perguntar o seu filme favorito da Disney? 

Jon: Hmm… Vamos lá: Aladdin, Mogli – O Menino Lobo, Toy Story, Divertidamente e Soul.

PP: Nunca dá pra escolher apenas um, né?

Jon: É porque são eras diferentes! Aladdin é de quando eu era criança e eu lembro de amar os livros para pintar os desenhos dos personagens. Aí em Mogli haviam tantas interações que eu gostava com a música! Toy Story foi o ápice da minha juventude e o primeiro filme da Pixar. Depois vem Divertidamente que é um filme para adultos de tão maduro que é por conta da discussão que aborda… 

PP: Aí vem Soul que simplesmente eleva ainda mais o nível de Divertidamente no sentido de explorar essa maturidade narrativa, né?

Jon: Pensando agora, eu acho que Soul é uma combinação perfeita de todos esses filmes. Tem cultura, tem música, tem coisas para adultos e crianças, e todo o estilo de animação da Pixar!

 

PP: Sim, é verdade! Agora vamos falar sobre o seu novo álbum “We Are”! Conta um pouco sobre pra gente? E da onde você tirou tempo para produzir esse disco porque, pelo o que eu vi, você é uma pessoa bastante ocupada…

Jon: Esse trabalho envolve tanta coisa! Comecei a trabalhar nele em 2019 no meu camarim, e depois fiquei 9 meses construindo e fazendo esboços de como eu queria que o resultado final ficasse… Terminei depois da primeira onda da pandemia, em 2020. Aconteceram tantas coisas lindas durante essa jornada longa, que como uma pessoa de 23 anos foi como um projeto “coming of age”: a idade de Jesus, mais a simbologia de passar dos 27 e chegar nos 33 e tudo o que isso representa! Eu estava pensando – num nível do subconsciente e não literal –, num projeto que misturava social music e pop negro. É sobre criar um ambiente musical negro em que as pessoas aproveitariam como um livro: do começo ao fim, sem misturar para realmente as pessoas estarem abertas a aproveitarem e absorverem o conteúdo. Música é vibração e tem tantos sons no disco! Música é vibração e não só notas e melodias. É sobre energia, frequência e espiritualidade. Essa é a vibe! 

 

PP: Podemos esperar uma pegada mais pop que os seus discos anteriores, sem abandonar o jazz? 

Jon: Eu não acredito mais em gêneros musicais! Eu acho que as pessoas escutam e criam estilos que refletem suas experiências e vivências particulares, mesmo às vezes a origem delas serem iguais uma das outras, entende? Existe um perigo em categorizar pessoas e estilos, porque isso as colocam em caixas e as impedem de terem uma liberdade criativa! E eu estava tão livre quando fiz esse disco! A faixa “I Need You” prova isso muito bem, ainda mais no clipe em que eu misturo social music com pop, rap e juke music! Então acho que em tudo não devemos nos limitar! 

 

View this post on Instagram

 

A post shared by Jon Batiste (@jonbatiste)

 

PP: E falando um pouco sobre o  jazz hoje em dia, é um gênero muito popular no mundo, mas talvez não muito popular entre os jovens. Se você pudesse dar três discos essenciais para quem quer começar a curtir jazz, quais seriam?

Jon: Wow… wow! WOW! Essa é uma pergunta pesada de se responder! Wow! Eu recomendaria a trilha sonora de Soul – é sério –, o álbum “The Great Summit” que Louis Armstrong e Duke Ellington fizeram juntos, e… Wow… Preciso pensar! Mas definitivamente a trilha sonora de Soul que é espiritual e profunda – exatamente o motivo pelo qual eu a compus, além de ser acessível para todos! A última recomendação seria “Inside” da Betty Carter…

PP: Certeza [risos]?

Jon: [Risos] Sim! Por enquanto vou deixar esses três, mas se eu lembrar de algum outro depois eu te falo! 

PP: Combinado! E quais são alguns dos artistas que você tem escutado ultimamente? 

Jon: Sullivan Fortner, um pianista de jazz incrível! Eu o escuto demais! Tem o Chassol também! Você conhece?

PP: Infelizmente não! Sinto que vou ter que fazer uma playlist com todos os artistas que você está indicando assim que essa entrevista terminar [risos]!

Jon: Chassol é bom demais! Também tenho escutado muito Bad Bunny e olha, vou deixar registrado aqui: tem um novo gênero musical sendo criado que se chama vibe music. Quem começou foi o Drake e o Future, e tem pessoas como o Bad Bunny na categoria também. Travis Scott tentou fazer, mas foi muito “diferentão”… Vibe music não é rap por mais que tenha a sua influência, porque o Kanye meio que zerou a categoria e significado do rap. Ele zerou o gênero. Aí pessoas como Kid Cudi, pegou o que o Kanye fez e criou uma outra subcategoria, mas por ele ser muito emocional, o Drake pegou aquilo e tornou tudo mais simples! Então se o Kid Cudi é Converse, o Drake é um Nike. Então esse existe essa vibe music em que não importa o que está sendo cantado! É simplesmente uma vibe que você escuta – seja no carro ou na balada. Estou bem curioso pra ver o que esse novo movimento vai significar a partir de um ponto de vista sócio-cultural… 

 

PP: Ao pesquisar ainda mais sobre o seu trabalho, a parte visual dele foi algo que me agradou demais e que só te complementa ainda mais como artista! Fiquei mais contente ainda quando li sobre o fato de que você está desenvolvendo um musical da Broadway sobre Basquiat! O que você pode nos contar sobre isso?

Jon: YES! Posso te contar que a família dele está envolvida no processo e que temos um time incrível… Eu como o dramaturgo e compositor, John Doyle como diretor… Será incrível! Estamos prontos para a Broadway quando as coisas reabrirem e tudo voltar ao normal. 

PP: Como uma entusiasta de musicais, eu estou pronta! Estou animada! 

Jon: Vamos lá!  Hamilton……… Leslie Odom Jr! 

PP: Isso foi um spoiler?

Jon: Não vou falar nada. 

PP: Ah, fala sério! Você não pode soltar uma bomba dessa e esperar que eu fique quieta! 

Jon: …Você nunca ouviu Chasson? Fala sério! [coloca a faixa “Pipornithology, Pt. II” para tocar no celular enquanto ri].

 

PP: [Risos] Tá bom então… Agora, Jon! Preciso te perguntar sobre o Brasil! O que você conhece sobre a nossa música?

Jon: Sei muito sobre a música brasileira! Sou muito fã e quando eu estava no colégio estudei a música do Tom Jobim e Caetano Veloso – eu já o vi tocar ao vivo, e eu amo como ele transparece o romance no jeito que ele canta!

PP: Sim! Ele é demais! E você já veio pra cá?

Jon: Sim! Fui para o Brasil quando era mais jovem, em 2008 ou 2009, acompanhando uma turnê da Cassandra Wilson e tem um vídeo em que estamos no programa do Jô Soares e ele entrevista nós dois e ugh, eu preciso achar esse vídeo! Estou tão novo nele que quero ver de novo pra relembrar!

PP: Minha última pergunta é pra você definir sua música em 3 palavras!

Amor. Alegria. Comunidade.

 

***

Salve o álbum “We Are” para ouvir no dia do lançamento aqui.

 

)Por Rafaela Sehn)

voltando pra home