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Woodkid fala sobre novo álbum: “Um mundo onde os oprimidos podem vencer os monstros”

Woodkid foi o nome escolhido pelo francês Yoann Lemoine para se apresentar. Você talvez ainda não o conheça, mas lá fora ele já é considerado um dos mais fortes do cenário pop alternativo da última década. Aos 37 anos está a caminho de lançar seu segundo disco, ainda sem título revelado (por mais que tenhamos tentado bastante descobrir ao longo desta entrevista).

Enquanto não acontece, ele dá prévias como “Goliath”, o primeiro single deste novo trabalho. Lançada em 24 de abril, a faixa é inspirada na história bíblica de Davi e Golias. “Gosto de chamar essas histórias de mitos, porque elas são mentiras. Essa é a definição delas. Eu amo mentira, mistério e simbolismo”, revela ao Papelpop.

Inspirado pela música e por seu flerte com o audiovisual, Woodkid começou sua carreira dirigindo clipes, entre eles “Teenage Dream”, de Katy Perry, “Born To Die”, de Lana Del Rey, e “Sign Of The Times”, de Harry Styles. Ele também trabalhou com Taylor Swift, Rihanna e Drake na criação de visuais.

Mas foi em 2013 que surgiu o convite pra lançar seu primeiro disco, “The Golden Age”. O trabalho traz faixas de uma sonoridade profunda, com arranjos muito bem elaborados, que transitam entre um pop sintético e experimental e um som mais orquestral.

Em casa, Yoann atende a uma chamada de vídeo nossa para falar sobre o novo projeto, que aliás tem tido uma divulgação um tanto misteriosa. Os vídeos são assinados por uma empresa fictícia chamada “Adaptive Minerals”, que parece guiar a narrativa do trabalho em um rolê meio apocalíptico. Alguns mostram que a responsável pela criação dos conteúdos encontrou soluções para problemas da humanidade através de minerais manipulados em laboratório, mas que na verdade, tudo está dando bem errado.

A história é revelada aos poucos para fãs que participam de uma espécie de caça às pistas.

A íntegra do nosso papo com o cantor você confere abaixo.

Papelpop: “Goliath” parece ser uma canção sobre poder. E penso muito sobre a possibilidade de existir a natureza e a humanidade sem o poder. Você tem algum pensamento sobre isso? E essa foi de fato uma inspiração para a faixa?

Woodkid: Tenho relações bem ambíguas com o poder. Quando você é um artista e influente no seu nível, é uma forma de poder. Acho que o vídeo e a música são muito sobre a relação entre os dominados e os dominadores. Sobre como os oprimidos podem vencer a besta, e [questionar] o que é essa besta, sabe? Podem ser os problemas ambientais que estamos enfrentando agora, ou a ascensão da extrema direita. Inclusive sei do que está acontecendo no Brasil. Essas formas monstruosas que parecem difíceis de vencer. Como tenho essa permissão, por ser um contador de histórias, gosto de criar um mundo no qual os oprimidos podem vencer os monstros. Mas também gosto que seja um mundo mais complicado do que só os oprimidos e os opressores. Um mundo no qual as conexões entre as pessoas sejam bem ambíguas e acho que isso fala muito da minha relação com o poder, que é ambígua. 

Que interessante! Sobre o som do single, tenho a impressão de que a paisagem que você criou talvez seja influenciada pela PC Music. Estou certo?

Sim, mas não. Foi tudo bem orgânico, com samples e fui mexendo em alguns equipamentos. Ou até alguns sons que soam como máquinas, mas tentei fazê-los soar de uma forma que pareça eletrônica de um jeito orgânico. Ou um som que soe eletrônico mas na verdade é orgânico. E a ideia era de ilusão, que faz parte do single e do álbum, pra você nunca saber realmente se as coisas são reais ou não.

E imagino que esse novo álbum teria vários vídeos. Você chegou a gravá-los antes do isolamento social? E como tem sido manter seu cérebro quieto mesmo com tanta energia criativa enquanto em casa?

Tem uma música do disco que eu terminei em casa, aqui no meu quarto. Gravei ela no armário, com um colchão atrás e gravei meus vocais lá. Foi muito estranho voltar pra dentro do armário depois de tanto tempo fora dele! Hahaha E estou me mantendo ocupado. Tenho bastante visuais para fazer. E estou fazendo aqui. Sobre os outros vídeos, ainda não os filmei. Estou tentando transformá-los de acordo com todas as coisas que estão acontecendo. Minha sorte é que tenho todo meu equipamento em casa, então consigo fazer os visuais daqui. Ainda consigo alimentar o projeto. Provavelmente não vai ser exatamente o que achei que seria, mas é parte do jogo. São problemas bem mundanos. Sou grato de ter podido fazer esse disco e gravar esse vídeo. 

Você comentou que gravar em casa tem sido estranho. Ultimamente, a gente tem visto muitos artistas gravarem em casa, até antes do isolamento social, como a Billie Eilish, por exemplo. Qual sua relação com essa forma de criação?
Eu gosto de manter o trabalho e minha casa separados, geralmente. Porque gosto de estar sozinho na minha casa. Sou uma pessoa bem solitária, mas amo estar cercado de pessoas que amo, no trabalho. Então tenho meu estúdio, onde trabalho com essas pessoas que amo. E minha casa é outra coisa. Tento separar, porque é muito importante pra minha saúde mental. E acredito que dá pra fazer coisas incríveis de casa, mas acho que é uma cultura que foi estabelecida pela música urban, ou trap. E esse não é o tipo de música que eu faço. Eu gravo orquestras, então não posso fazer isso em casa, obviamente. Mas às vezes, trabalho na minha cama, no meu notebook. É ótimo poder trabalhar em qualquer lugar, assim. Não sou um nerd de equipamento físico. Acredito que dá pra fazer muita coisa diretamente no computador, mas fisicamente adoro a ideia de um local de trabalho. Mas não tenho milhares de equipamentos, sintetizadores e tal. Tenho alguns, mas não muitos. 

Fazer um trabalho incrível com coisas simples é algo um tanto rebelde, né? E sua trajetória, sobre ser tanto um artista audiovisual quanto músico, também pode ser lida como corajosa, certo? Você já teve medo de que a indústria não entendesse a sua arte por ela ser tão ampla?

Sou bem sortudo em ter um time que realmente entende o que faço e trabalha bem duro. Sou muito sortudo em muitos níveis. Eu teria medo se eu não tivesse esse medo. Quando você teme que as pessoas não entendam o que você está fazendo, significa que você está fazendo algo que sabe que vai funcionar. Quando criamos “Goliath”, eu não tinha ideia de se as pessoas iam entender aquilo. Ela é muito estranha. Sendo honesto, ainda tenho muita insegurança. Não sei se eu devia vir e dizer “é um hino”. Não tenho ideia. Tudo que sei é que foi louco e divertido de fazer, porque foi experimentação a todo momento.  Do jeito que canto, com minha voz duplicada, no registro mais baixo e num mais médio, porque tem duas vozes cantando juntas a todo momento. Você só ouve uma voz, mas na verdade são duas. Foi divertido demais. 

Tenho a sensação de que o álbum vai se chamar “Adaptive Minerals”, porque esse é o nome que está em alguns materiais de divulgação meio misteriosos sobre o trabalho. Estou certo?
Não, você não está! Quer saber a verdade? Ah, eu não vou te contar, porque ainda não contei pra ninguém. Não vou revelar o título do disco ainda! Hahaha

Podemos saber mais das histórias que são contadas nesse novo trabalho? Porque “Goliath” é inspirada na história bíblica de Davi e Golias, certo? Há outras influências desse tipo de história e outros mitos?

Gosto de chamar essas histórias de mitos, porque elas são mentiras. Essa é a definição delas. Eu amo mentira, mistério e simbolismo, porque essas coisas são portas para permitir às pessoas fazerem das músicas algo próprio delas. Achar significado. Quando tudo está definido e é muito explicativo, acho que você perde um pouco da generosidade de sua música. Da arte em geral, porque você está bloqueando um espectro para entender o que você esta fazendo. E acho que tem duas razões pra eu fazer as coisas do jeito que faço: a primeira é essa, de tentar revelar o mistério. Eu só faço 10% e o resto é seu, a ser completado. A segunda coisa é que eu não tenho a mínima ideia de que porra estou fazendo, na maior parte do tempo. Parece que eu sei. Eu junto as ideias e misturo num coquetel impressionista que eu tento fazer funcionar. Com o tempo, se você vai juntando essas coisas, você começa as entender. Às vezes, até eu só entendo depois as coisas que eu queria dizer. Então… eu posso te contar a narrativa do que está por vir? Mesmo que eu pudesse, eu não contaria! [Diz ele com o sorriso um sorriso sapeca]

E acho que nosso tempo está acabando, então nossa próxima pergunta vai precisar ser a última, né?

Nossa, você fez um ótimo trabalho! Geralmente os jornalistas só são interrompidos [ele diz enquanto a assessora de imprensa dele diz na outra linha “estou ouvindo!”, em brincadeira.]

Hahaha que bom! Você costuma colaborar com outros artistas, às vezes até maiores, mas também tem outros com quem você recusou de trabalhar. Então queria saber se tem alguém neste momento por quem você está obcecado e adoraria de trabalhar junto, seja num vídeo ou numa música. 

Tem muita gente com quem estou obcecado. Com a própria Billie, na verdade. Acho que ela é incrível. Com a Florence [Welch], porque ela tem uma voz incrível. Sei que a gente tem alguns fãs em comum, que adorariam se a gente cantasse junto. Qualquer colaboração é interessante pra mim desde que seja algo com o qual posso aprender. E acho que tem muitos talentos fantásticos com quem posso aprender. E já fiz muito isso, de colaborar com algumas pessoas pra aprender com elas.

Mas aproveitando, tem na internet esse rumor de que você se negou a trabalhar com a MADONNA. Você sente que não tinha nada a aprender com ela?

Você quis falar de mitologia e isso é uma grande parte dessa história. Fui convidado pra trabalhar numa canção para um vídeo, mas infelizmente nossa agenda não bateu. Então eu tive que negar a proposta, mas não foi esnobando. Eu a amo e ela significa demais pra mim. Ela foi a única pessoa que me disse que estava tudo bem se eu fosse gay, quando eu era mais novo. Então o pedido dela é uma ordem. 

 

Estamos muito animados pra saber mais desse mundo novo do Woodkid <3

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